quarta-feira, 27 de abril de 2005

CABRA MARCADO PARA MORRER

Foto: ozlopesjr.

Elizabete e família


O filme de autoria de Eduardo Coutinho baseia-se em dois parâmetros distantes sobre a organização dos Camponeses do Engenho da Galiléia, sertão da Paraíba. No primeiro momento, sem muito recurso de filmagem, onde os próprios camponeses são atores, num relato fiel ao seu cotidiano perante as questões de latifundiário e trabalhista em que, devido ao golpe de 64 fora impedido de prosseguir com as filmagens. No segundo, o retôrno após dezessete anos numa mesclagem da memória do passado em conflito com o presente revelando em imagem do pouco que se aproveitou dos negativos que foram danificados naquela época.

Neste primeiro momento, as filmagens foram elaboradas com película 35mm, em preto e branco; a luz usada naturalmente com pouco recurso durante o dia, e a noite uma improvisação ambiental. Ângulo geral, closes, panorâmicos utilizados aproximando-se do padrão de filmagem.

Dentre os atores destaca-se a figura de Elizabete Teixeira que dá continuidade à luta após a morte do marido, João Pedro. Mulher decidida e revolucionária para os moldes daquela época. Durante algum tempo, após a morte de João Pedro, sua filha suicida-se em pleno desespero. Percebe-se, então, a degradação de uma família e o ódio crescente diante da tamanha dissipação.

Como naquele período fora interrompido as filmagens, Eduardo Coutinho retorna ao passado, após 17 anos, em busca dos camponeses, a fim de lhes mostrar um pouco do que restou daquela filmagem, ao mesmo tempo, resgatar a memória de cada um que vivenciou aquela época. Reúne alguns numa pequena sala em que, por alguns instantes, os atores se vêm na tela dialogando consigo mesmo. Uma imagem refletindo o passado no presente. Uns comentam o filme, outros se resguardam. Apesar de se passar 17 anos, Coutinho percebe o medo e o niilismo de alguns em não querer comentar sobre o fato relembrando o período de perseguição. Se a imagem do passado tornou-se o real perante o presente, por longos e longos anos, estas o acompanharão até o fim de suas vidas. Caso a parte de um camponês que se recusa a falar sobre o assunto.

Ainda neste segundo momento, Coutinho usa uma linguagem colorida em vez do preto e branco, como se o preto e branco fosse uma obscuridão do passado, apesar das mudanças no decorrer do período.

Ressalta-se, que, antes de Coutinho e sua epuipe irem embora, algo inesplicável salta do subconsciente de Elizabete Teixeira numa critica sobre o continuismo do estado atual. Naquele momento conseguira expor para fora o que, durante o seu segundo relato, talvez, não tivesse tanta coragem. Em sua visão sobre conjuntura atual, tão pouco tem mudado em favor do trabalhador. Há uma transferência de atos deferentes do passado. Também há uma incógnata pairando sobre a nossa consciência, se ela sabia naquele exato momento que estava sendo filmada ou não. Ou o medo ficara no passado que fez com que fizesse a seguinte interrogação: "Que democracia é esta...?". Num único desbafo em que finaliza o documentário de Eduardo Coutinho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Velho Hálice!
Eu até escrevi minha resenha sobre o filme, mas preciso admitir que seus comentários estão ótimos!
[]´s
Admon Costa www.cyber.blogse.com.br