terça-feira, 3 de maio de 2005

"NARRADORES DE JAVÉ"

Foto: Divulgação

Biá ouve relato de um dos moradores de Javé

A diretora de ’Narradores de Javé”, Eliane Caffé, apresenta para o espectador o filme dramático sobre a inundação de uma pequena cidade onde ali vivem pessoas humildes e simples, cada um com sua história deferente para dar lugar a construção de uma hidrelétrica, permitindo, assim, espaço para o desenvolvimento e progresso. O elenco conta com a participação de José Dumont como (Antonio Biá), Matheus Nachtergaele, dentre outros.

O povo daquele sertão assustados e preocupados em ver suas terras debaixo d’água, e toda sua história ser levada por ela, resolve escolher alguém alfabetizado para escrever o seu passado. Biá interpretado por José Dumont, que havia sido expulso da cidade por inventar fofocas sobre os moradores quando trabalhava na agencia de correios da cidade, é escolhido para escrever o "livro da salvação", como eles mesmos chamam. Como ele já tinha “artimanha” de criar história, essa seria a maneira de se redimir dos atos cometidos.

Biá sai em busca de coleta em que se depara com várias versões: cada um tinha um conto deferente, e ditava ao seu modo e ponto de vista. Diante dessa multiciplicidade de informações, ele pesquisa baseado em sua fonte, que diz: "uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito". A parti daí, os relatos ficam a critério do seu ponto de vista como, por exemplo, na versão relatada por uma mulher do povoado, a grande heroína entre os fundadores de Javé é Maria Dina. Na versão de um morador negro, o herói principal também é negro e chama-se Indalêo. Assim, ao mesmo tempo em que o filme nos diz da interferência do narrador na história, também fala sobre os excluídos da "história oficial" (a dos livros didáticos). Cada vez que Biá saia em busca de novas coletas sentia-se mais enrolado com os relatos sob pressão dos moradores. Meio desajustado, desanimado e sem rumo, não completa a historia sendo desprezado pelos moradores. A pesar do desprezo, no final da historia, após ver a cidade submersa, é perdoado por todos e escreve a sua visão.

A pesar de ser uma dramaturgia, baseado na realidade, a história se repete quando se trata de substituir uma cultura, não importando a que povo pertença pelo desenvolvimento, ou se podemos citar como “progresso”. Até quando a cultura, os costumes, a vida de uma população pode ser interferida pela tecnologia? A medida em que ocorre, sem deixar registro, além de se perder a memória dos seus costumes e mitos, sem precedentes, perde-se também a relação intrínseca de cada cidadão que firmara durante a vida que passara naquela região. Resta então, rememorizar cada um ao seu estilo tudo que ficara para trás. Se não podemos confrontar o progresso, que, pelo menos, ele venha com o mínimo de coerência harmonizar o passado com o futuro. Deste modo, ameniza-se o conflito e as perdas do passado que se tornaram irreversíveis.

Eliane mistura mito e realidade em seu cinema, além de incrementar o futuro (tecnológico, impressionado com a atualidade, com o a música eletrônica e os samplers, com a internet, com a cultura pop), deixando o público a vontade para fazer sua própria análise sobre o roteiro de cada filme. Ganha o cinema e o público que, cada vez mais exige filme de qualidade em suas exibições no cenário nacional, além de um roteiro de dar inveja aos produtores internacionais

O filme "Narradores de Javé", rendeu a diretora brasileira, Eliane Caffé, no festival do Rio (2003) três prêmios: melhor filme do júri oficial, do popular e de melhor ator para José Dumont. Além deste, Kenoma em 1998, também muito prestigiado pela crítica como: O nariz (1987) e Arabesco (1990). Recebeu o Prêmio da Crítica no Festival Internacional de Friburgo, realizado na Suíça: ganhou 7 Troféus Calunga e ainda recebeu o prêmio da crítica e o Prêmio Gilberto Freyre no Cine PE - Festival do Audiovisual 2003. Os troféus foram nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Edição, Melhor Ator (José Dumont), Melhor Ator Coadjuvante (Gero Camilo), Melhor Edição de Som e Melhor Atriz Coadjuvante (Luci Pereira).

Referencias: NARRADORES de Javé. Direção: Eliane Caffé. Produção: Vânia Catani. Roteiro: Luis Alberto de Abreu e Eliane Caffé. Interpretes: José Dumont, Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Nelson Dantas e outros. Rio de Janeiro. Estúdio: Bananeira Filmes / Gullane Filmes / Laterit Productions. 2003. Exibido em Sala de Aula na Faculdade da Cidade do Salvador. Fita VHS (100min.), son, color.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Hálice!
Estou aqui novamente. Esse sem dúvida alguma é o FILME. Como já sabem o cinema brasileiro tem crescido bastante nos ultimos 5 anos. Essa resenha aí que você escreveu é bastante consistente, lembro bem dos detalhes do filme quando assistimos em sala de aula. Um abraço.
Admon Costa www.cyber.blogse.com.br