quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ATENÇÃO AO SÁBADO


Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.


  No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
  Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.
  De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.

  Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
  No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.
  Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.

  Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã. 
  Domingo de manhã também é a rosa da semana. 
  Não é propriamente rosa que eu quero dizer.

Clarice Lispector

Nenhum comentário: