sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A VIDA NOS MUNDOS INVISÍVEIS - BL IX - PESSOA ESPIRITUAL

IX.  Pessoa Espiritual


Como nos sentimos ao tornarmo-nos espíritos? Essa é uma questão suscitada em mentes de muita gente. Se, ao contrário, perguntássemos: como se sentem as pessoas da Terra?, estaríamos inclinados a responder que a pergunta é meio tola, porque tendo sido encarnados deveríamos saber. Mas antes de ser afastada a questão, vamos ver o que se pode dar como resposta.
Antes de mais nada consideremos o corpo físico. Êle sofre fadiga, pelo que é necessário ter descanso; sente fome e sede e deve ser provido de alimento e bebida; êle pode sofrer tormentps e dores por meio de uma grande variedade de doenças; pode perder seus membros através de acidentes ou por outras causas. Os sentidos podem tornar-se embotados pela idade ou acidentes, podem causar a perda da vista ou da audição; ou então o corpo físico pode vir ao mundo privado de algum sentido ou incapaz de falar. O cérebro físico pode ser afetado tornando-nos incapazes de ações sadias e, conseqüentemente, temos que ser cuidados por outros.
Que tenebroso quadro, direis! Assim é, mas qualquer um pode ser vítima de pelo menos uma infelicidade, dessa lista de limitações que mencionei. Pelo menos três são comuns a toda alma na terra a fome, a sede e a fadiga.

Agora eliminemos completa e inteiramente cada uma dessas incapacidades; excluamos infalivelmente e para sempre suas causas, e teremos a idéia do que significa ser uma pessoa espiritual.
Quando eu estava na terra sofri alguns dos padecimentos comuns a nós, sofrimentos que não são sérios e devemos encarar como naturais: dores pequenas que conseguimos su­portar. Além dessas dores, estava cônscio de meu corpo físico pela manifestação da fome, sede, e fadiga. A doença final — a mais séria — foi demais para o pobre corpo e sobreveio a minha transição. Imediatamente senti o que é ser uma criatura do espírito.
Ao deparar com Edwin sentia-me fisicamente um gi­gante, apesar do fato de que acabava de deixar um leito de doença. Com o passar do tempo senti-me melhor ainda. Não tinha a mínima sombra de dor e sentia-me leve como se na verdade não tivesse corpo algum. Minha mente estava completamente alerta e eu me dava conta de meus membros somente quando precisava mover-me, aparentemente sem ne­nhuma das ações musculares que me eram até então fami­liares. É muito difícil explicar essa sensação de perfeita saúde, porque é uma coisa impossível na terra, e portanto não há nada com que eu possa traçar uma comparação ou formar uma analogia. Esse estado pertence ao espírito apenas, e desafia por completo qualquer descrição em termos ter­restres. Deve ser experimentado, e isso é impossível até que nos encontremos aqui.
Já disse que minha mente estava alerta mas isso não diz tudo. Descobri que minha mente era um verdadeiro de­pósito de fatos referentes à minha vida passada. Cada ação que eu realizara e cada palavra emitida, cada impressão recebida, cada fato sobre que eu lesse, cada incidente teste­munhado, tudo isso descobri estar indelevelmente registrado em meu subconsciente. E isso é comum a toda pessoa espi­ritual que já teve vida encarnada.
Não julguem que somos continuamente assombrados por uma louca fantasmagoria de uma miscelânea de idéias e impressões. Seria um verdadeiro pesadelo. Não. Nossas mentes são como uma biografia completa da vida terrena, onde está anotado cada pormenor referente a nós mesmos, arrumado em ordem e onde não se omite coisa alguma. O livro está fechado, mas está ali, sempre à mão, para consul­tarmos e meramente recordarmos os incidentes, se o dese­jarmos.
A descrição que vos dei dessa especial memória da alma, traz à tona outras leis, como já tentei mostrar. Não estou preparado para explicar como, apenas posso dizer o que acontece.
Essa memória enciclopédica de que somos dotados, não é difícil de compreender quando nos detemos para considerar nossa memória média na terra. Não se é continuamente incomodado pelos incidentes de toda a nossa vida, mas eles estão simplesmente à mão para se recordar, querendo. Um incidente desencadeará uma corrente de pensamentos em que a memória participará. Às vezes não se pode solicitar o que há na memória, mas no mundo espiritual isso é ime­diatamente possível, sem esforço e sem falhas. O subconsciente nunca esquece e assim nosso passado se torna censura ou não, de acordo com a nossa vida terrena. As anotações sobre as placas da verdadeira mente não podem ser apagadas. Lá estão para todo o sempre, sem necessariamente nos perseguir, porque nessas anotações estão também as boas ações, os bons pensamentos e tudo de que possamos justamente nos orgulhar. E se estão escritas em caracteres maiores e mais enfeitadas do que os fatos que lamentamos, tanto melhor.
É claro que quando estamos no mundo espiritual, nossas memórias são persistentemente retentivas. Quando fazemos um curso de estudos sobre qualquer assunto, vemos que aprendemos facilmente e rapidamente porque estamos livres das limitações que o corpo físico impõe à mente. Se estamos adquirindo conhecimentos, reteremos esses conhecimentos, sem dúvida nenhuma. Se nos estamos aperfeiçoando em algo que requer destreza manual, veremos que nossos corpos espirituais respondem aos impulsos de nossas mentes, imediata e exata­mente. Aprender a pintar um quadro ou tocar algum instru­mento musical, para mencionar apenas duas atividades comuns, são tarefas que levam apenas uma fração do tempo que nos tomariam quando ainda encarnados. Ao aprender a fazer um jardim espiritual ou a construir uma casa, veremos que a perícia exigida é atingida com igual facilidade e rapidez; isto é, tanto quanto nos permitir nossa inteligência. Porque não somos dotados de aguda inteligência no momento em que nos desfazemos do corpo físico. Se assim fosse, estes reinos seriam habitados por super-homens e supermulheres, e na verdade está longe disso! Mas a nossa inteligência pode ser aumentada; isso é parte do nosso progresso. A mente tem ilimitados recursos para expansão intelectual e melhoria, por mais atrasados que possamos ser quando aqui chegamos. E o nosso progresso intelectual se adiantará certa e firme­mente, de acordo com o nosso desejo ou prazer de o fazer, sob a orientação de capazes mestres de todos os ramos de ciências. E ao longo de todos os estudos seremos assistidos por nossas memórias infalivelmente receptivas. Não há esque­cimento.
Agora passemos ao corpo espiritual em si. Êle é, geral­mente falando, a réplica do corpo terreno. Quando chegamos aqui, somos reconhecidamente nós mesmos. Mas deixamos para trás todas as nossas incapacidades físicas. Temos membros, vista e audição, e todos os outros sentidos funcio­nando perfeitamente. Na verdade os cinco sentidos, como os chamamos na terra, tornam-se vários graus mais agudos quando desencarnamos. Qualquer supernormal ou anormal condição do corpo físico, tal como excessiva gordura e ma-greza, desaparece quando chegamos a estas paragens.
Há uma fase em nossas vidas na terra que se chama a flor da idade. É nessa direção que todos nós nos enca­minhamos. Aqueles que são idosos, ao passarem a espírito, voltarão a esse período. Outros que são jovens se adiantam até essa fase, e todos nós preservamos as nossas naturais características que nunca nos abandonarão. Mas descobrimos que muitos traços menores, que podemos muito bem dispensar, são eliminados juntamente com nossos corpos físicos — certas irregularidades do corpo com que tenhamos nascido, ou que nos advieram com o correr dos anos. Quantos de nós, gostaria eu de saber, não terão alguma sugestão a fazer no sentido de melhorar nosso corpo, se fosse possível.
Já vos disse como as árvores aqui crescem em absoluta perfeição — direitas e limpas, bem formadas porque não há tempestades ou ventos para lhes curvar os jovens galhos e deformá-los. O corpo espiritual está sujeito à mesma coisa. As tempestades da vida podem distorcer o corpo, e se essa vida foi espiritualmente feia o corpo espiritual será similar­mente torcido. Mas se a vida terrena foi sã, o corpo espiritual será correspondentemente são. Há muitas belas almas habi­tando um corpo terreno disforme, assim como há almas más dentro de corpos bem formados. Mas no mundo espiritual se revela a verdade a respeito de todos.
Como é a aparência anatômica do espírito, perguntareis? É exatamente a mesma que a vossa da terra. Temos músculos, nervos, ossos, mas não são da terra, são puramente do espírito. Não sofremos indisposições isso seria impossível aqui. Portanto nossos corpos não requerem cuidados constantes para se manterem em boa saúde. Aqui ela é sempre perfeita, porque temos um grau de vibração tão elevado que gérmens causa­dores de doenças não podem entrar. Subnutrição, no sentido em que é conhecida na terra, não existe aqui. Mas sub­nutrição espiritual, isto é, da alma, certamente existe.
Será estranho pensar que um corpo espiritual possua cabelos e unhas? Como queríeis que fôssemos? Não seríamos repugnantes sem os traços anatômicos usuais? Isto parece uma afirmação elementar, mas é às vezes necessário dar voz ao elementar.
Como é o corpo espiritual coberto? Muita gente, para não dizer a maioria, desperta nestes reinos, vestida com a cópia das vestimentas que usava na terra na época de sua transição. É razoável que isso aconteça porque tal vestimenta é costumeira, especialmente quando a pessoa não tem previsão

das condições do mundo espiritual. E assim permanece até que o queira. Seus amigos lhe dirão do seu verdadeiro estado de ser, e ela poderá assim mudar a roupa, se o desejar. Muitos se alegram de o fazer, visto que o antigo estilo usado na terra lhes parece triste e sem côr nestes risonhos reinos. Não demorei muito a pôr de lado o meu velho hábito religioso, visto que o preto é sombrio demais para esta galáxia de cores.
Ás vestimentas espirituais variam tanto quanto variam os reinos. Parece sempre haver alguma sutil diferença entre as roupas de um espírito e de outro, tanto na côr como na forma, de maneira que há uma variedade infinita tanto na côr como na forma.
Todas as roupas espirituais são compridas quase até os pés. São suficientemente largas, de modo que caem em pregas graciosas e estas pregas é que oferecem os mais lindos matizes de cores e luzes. Seria impossível dar uma idéia do que são.
Vêem-se muitas pessoas usando uma faixa ou cinto à cintura, às vezes de fazenda, outras de rendas de ouro ou prata. Em qualquer dos casos, constituem recompensas por serviços prestados. São geralmente adornadas com as mais belas pedras preciosas, de vários formatos, e montadas em engastes maravilhosos. Os entes superiores são vistos usando os mais magníficos diademas, tão brilhantes como os cintos. Aqueles que pertencem a graus inferiores podem usar tal adorno mas de formas menos imponentes.
Há uma grande riqueza de sabedoria espiritual atrás de cada adorno, mas um fato precisa ficar bem claro: tais en­feites precisam ser conseguidos. Os prêmios são dados apenas por mérito.
Podemos usar o que quisermos nos pés, e a maioria pre­fere usar algo que os proteja e geralmente é um sapato leve ou sandália. Já vi inúmeras pessoas que preferem andar des­calças. Isso não provoca comentários porque é natural e comum.

O material que usamos nas roupas não é transparente como alguns julgam. É bem compacto. E a razão pela qual não é transparente é que nossa roupa possui o mesmo grau vibracional que o possuidor. Quanto mais alto progredimos maior se torna esse grau, e, conseqüentemente, os moradores dessas elevadas esferas adquirem uma incrível fragilidade no espírito e nas roupas. Essa transparência é mais visível a nós do que a eles, isto é, externamente visível, pela mesma razão que uma luz pequena parecerá mais luminosa em vir­tude da escuridão reinante em volta. Quando se aumenta a luz mil vezes, — como é o caso dos planos superiores — o contraste é incomensuravelmente maior.
Raramente usamos cobertura para a cabeça. Não recordo ter visto nenhum por aqui pois não necessitamos proteção contra os elementos.
Creio já terdes concluído a esta altura que ser uma pessoa espiritual pode ser algo bem agradável.
Em minhas andanças pelos reinos da luz ainda não encontrei um único indivíduo que quisesse trocar esta bela vida por aquela velha da terra.
Experto crede!



X.  A Esfera das Crianças


Uma das inúmeras perguntas que fiz a Edwin logo após minha chegada referia-se ao destino dado às crianças que passavam a espírito.
Há um período de nossa vida terrena a que estamos acostumados a chamar Flor da idade. Há uma também aqui, e é na direção desse período que todas as almas ou voltam ou se adiantam, conforme a idade em que tem lugar seu passamento. Quanto tempo leva, depende inteiramente delas, visto que é apenas uma questão de progresso espiritual e desenvolvimento, apesar, de que para os jovens este período
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seja geralmente mais curto. Aqueles que passam a espírito depois da flor da idade, sejam eles idosos ou de meia-idade, tornar-se-ão mais jovens na aparência apesar de amadurecerem espiritualmente. Não se deve concluir com isso que nós todos chegamos a um nível estático de vulgar uniformidade. Exter­namente parecemos jovens: perdemos aqueles sinais que a passagem dos anos causa e que tanto nos perturbam quando mortais. Mas nossas mentes tornam-se mais velhas ao ga­nharmos conhecimento e sabedoria e maior espiritualidade, e essas qualidades da mente são manifestas a todos com quem entramos em contato.
Quando visitamos o templo da cidade, e, à distância, vimos o radiante visitante que viéramos honrar, êle apre­sentava o aspecto perfeito e eterno da juventude. No entanto o grau de sabedoria e espiritualidade que difundia e que podíamos sentir com nossas mentes, era avassaladoramente grande. Acontece o mesmo, em vários graus, com aqueles que vêm dos mais altos planos para nos visitar. Se, portanto, verificamos este rejuvenescimento de pessoas adultas, o que se dará com as almas dos que morreram crianças ou dos que morreram ao nascer?
A resposta é que crescem como o fariam na terra. Mas às crianças daqui de todas as idades é dado um trata­mento e cuidado que nunca seria possível na terra.
A criança cuja mente ainda não está completamente formada e não está contaminada pelos contatos terrenos, ao passar a espírito acha-se num reino de extrema beleza, presi­dido por almas igualmente belas. O reino destas crianças chama-se o berçário do céu e quem quer que tenha a fortuna de visitá-lo sabe que não termo mais adequado. E foi em resposta à minha pergunta que Edwin propôs levar Rute e eu para o conhecermos.
Encaminhamo-nos para o limite entre os reinos superiores e o nosso, e voltamo-nos na direção da casa de Edwin. Já podíamos sentir a atmosfera rarefeita, embora não o bastante para nos causar desconforto. Notei que essa atmosfera tinha

bem mais côr do que as profundezas do reino. Era como se um grande número de focos luminosos se encontrassem e espalhassem seus largos raios por toda a paisagem. Esses raios de luz estavam sempre em movimento, entrelaçando-se e produzindo as mais delicadas misturas de cores com suces­sivos arco-íris. Eram extremamente repousantes e também cheios de vitalidade, e, como pareceu a Rute e a mim, de alegria e despreocupação. Tristeza e infelicidade, sentíamos ser inteiramente impossível aqui.
O campo era mais verde, as árvores não tão altas mas bem formadas como todas as outras aqui.
Depois de algum tempo a atmosfera clareou e, sem os raios coloridos já era mais semelhante à nossa. Mas havia uma estranha e sutil diferença que intrigava o visitante na sua primeira visita, e derivava, como nos disse Edwin, da espiritualidade das crianças que aqui vivem. Algo como isso se encontra quando se tem o privilégio de viajar por reinos mais elevados. É quase como se houvesse maior grau de beleza no ar, à parte o notável efeito de elevação da mente.
Vimos vários esplêndidos edifícios ao caminharmos pela grama macia. Não eram muito altos mas largos e extensos, e todos agradàvelmente situados entre jardins floridos.
Flores, é desnecessário dizer, cresciam em abundância nos canteiros artísticos e em grandes agrupamentos nas en­costas e sob as árvores. Já expliquei, a respeito das flores, que suas semelhantes da terra crescem por si mesmas, e que as próprias do mundo do espírito acham-se separadas das primeiras. Dissemos que não há significação especial nesta segregação, mas que ela existe para mostrar simples­mente a distinção entre duas classes de flores: a espiritual e a terrena. Tão belas quanto na terra são as. flores que aqui crescem, e não pode haver comparação com as que pertencem ao espírito. E aqui ainda estamos limitados pela experiência terrena ao descrevermos suas belezas. Não são de cores mais ricas do que as da terra, mas a conformação e folhagem são de beleza sem paralelo, pois não conhecemos nenhum exemplo

na terra que lhe possa servir de comparação. Mas não se deve supor que essas magníficas flores sejam de estufas. Longe disso. A superabundância delas, aliada à força e variedade de seus perfumes imediatamente afastaria a idéia de raridade. Não houve nenhum caso em que o cultivo da beleza de uma flor prejudicasse o seu perfume. Todas pos­suem a qualidade comum a todas as coisas que crescem aqui, ou seja, a de verter força energética não só através de seu aroma, mas também através do contato pessoal. Já experi­mentei segurar uma flor com as mãos em forma de concha — Rute assim me instruiu — e senti uma corrente de força vital fluir para os meus braços.

Podiam-se também ver deliciosos reservatórios de água e lagoas, em cuja superfície floresciam as mais belas flores aquáticas. Noutra direção viam-se uma série de lagos maiores, com inúmeros barquinhos vogando serenamente.
Os prédios leiam construídos de uma substância seme­lhante ao alabastro, e de tonalidades as mais delicadas; o estilo da arquitetura lembrava os de nossa própria esfera.
Mas o que nos provocou maior surpresa foi o ver, con­fundidas no meio dos bosques, as mais engraçadas casinhas de campo, tais como costumamos ver em livros de fadas. Havia minúsculas casas de vigas recurvas, telhados vermelhos e janelas de minúsculos vidros, e cada uma com o seu encan­tador jardim ao redor.
Pode-se pensar que o mundo espiritual tenha se inspirado na terra, nessas criações fantasistas para a alegria das crianças, mas não foi o caso. Na verdade, toda essa concepção de casas em miniatura emanou do próprio mundo espiritual. Qualquer artista que tenha recebido nossa impressão original, perdeu-a na terra através dos anos. Esse artista é conhecido aqui, onde vai continuar sua obra na esfera das crianças.
Essas casinhas eram grandes o bastante para permitir a entrada de um adulto sem bater a cabeça. Para as crianças preciam ser de tamanho exato, e elas não tinham a impressão de se perderem lá dentro. Por essa mesma razão é que todos

os grandes edifícios aqui não são muito altos. Não os cons-

truindo muito altos nem de salas grandes demais, estavam
de acordo com seus pequenos habitantes, que assim não se
sentiam diminuídos por eles.                                                 .1

Grande número de crianças vivem nessas minúsculas habitações, cada uma presidida por uma criança mais velha, perfeitamente capaz de enfrentar qualquer situação que surja entre os habitantes.
Ao andarmos víamos grupos de crianças felizes, algumas jogando, outras sentadas na grama enquanto uma professora lia para elas. Outras ouviam atentamente as explicações sobre flores numa aula de botânica. Mas era uma botânica muito diferente da da terra, no que se refere às flores essencial­mente espirituais.
Edwin levou-nos a uma das professoras e explicou-lhe a razão de nossa visita. Imediatamente nos deram as boas--vindas e a professora teve a bondade de responder a algumas perguntas. Seu entusiasmo pelo trabalho aumentava o prazer de nos contar o que desejássemos. Ela estava aqui havia um bom número de anos. Como tivera filhos na terra e como se interessasse muito por crianças resolveu encarregar-se desse trabalho.
Nem era necessário dizer quão admiravelmente ela se desincumbia desta tarefa. Irradiando encanto e confiança, bondade e alegria, ela atraía todas as crianças, compreendia a mente infantil, que na verdade era quase uma criança grande.
Possuía amplo conhecimento das mais interessantes coisas, especialmente das que atraem as crianças; tinha uma fonte inesgotável de histórias, e, o que é mais importante, mostrava-se a pessoa mais feliz que vi até hoje.
Nesta esfera, nos disseram, crianças de todas as idades, desde o bebê, cuja existência na terra não foi além de alguns minutos ou que nem chegou a ter existência própria, ao jovem de dezesseis ou dezessete anos.


Acontece freqüentemente que as crianças, ao crescerem, permanecem na mesma esfera e elas mesmas se tornam pro­fessores por algum tempo, ou até que seu trabalho as leve a outros lugares.
E os pais? Foram eles alguma vez os professores de seus próprios filhos? Raramente ou nunca, segundo nos disse nosso informante. É uma prática que raras vezes dá certo, visto que o pai estaria inclinado a favorecer o seu próprio filho e poderia haver embaraços. Os mestres são sempre almas de grande experiência, e não há muitos pais na terra que seriam capazes de orientar a educação do espírito infantil imediatamente após o passamento.
Se os professores foram pais ou não no plano terrestre, eles aqui têm de submeter-se a um extenso curso antes de se julgarem aptos a preencher o cargo de mestre de crianças, para manter os rígidos padrões de trabalho.
O trabalho não é árduo, a julgar pelo padrão terreno, mas exige uma multiplicidade de atributos especiais.
O crescimento mental e físico da criança no mundo espi­ritual é mais rápido do que no mundo terrestre. Vós vos lembrais da retenção da memória de que já vos falei? Ela começa assim que a mente seja capaz de aprender algo, e isso acontece bem cedo. A aparente precocidade é per­feitamente natural, porque a mente jovem absorve conhe­cimentos facilmente. O temperamento é cuidadosamente estudado pelas linhas espirituais e as crianças são treinadas primeiro a respeito de assuntos espirituais e depois é que são instruídas acerca do mundo.
O governante do reino age, em geral, in loco parentis, e todas as crianças, na verdade, o consideram como pai. O ensino das crianças é muito vasto. Elas aprendem a ler, mas muitas das disciplinas do curriculum terreno são omitidas como supérfluas.
Ao crescer, as crianças podem escolher sozinhas o tipo de trabalho que prefiram e, especializando-se, tornam-se per­

feitamente aptas para desenvolver a atividade escolhida. Al­gumas, por exemplo, preferem voltar à terra temporariamente para trabalhar no exercício das comunicações e se tornam altamente eficientes. Tais visitas têm a vantagem de aumentar suas experiências, aprofundando sua compreensão das atri­buições e prazeres dos seres encarnados.
Surge sempre esta pergunta na mente de pessoas da terra, com referência a crianças que já morreram: "Pode­remos nós reconhecer nossos filhos quando chegarmos ao mundo espiritual?', A resposta é um enfático sim, fora de qualquer dúvida. — "Mas como? se eles cresceram no mundo espiritual e longe de nossas vistas?"
Para responder, é necessário conhecer um pouco mais a respeito de nós mesmos.
Deveis saber que, quando dormimos, o espírito se retira temporariamente do corpo físico, se bem que permaneça li­gado a êle por um fio magnético. Esta ligação é o fio da vida entre o espírito e o corpo. O espírito, assim liberto, ou perma­nece nas vizinhanças do corpo ou gravitará para a esfera que seus atos terrenos lhe terão dado direito de freqüentar. O espírito passa, portanto, parte da sua existência em terras espirituais. E é nestas visitas que encontramos parentes e amigos que morreram antes de nós; é também nessas visitas que os pais podem encontrar seus filhos, e assim observar seu crescimento. Na maioria dos casos os pais não podem penetrar na esfera dos próprios filhos, mas há inúmeros lugares onde tais encontros podem ocorrer. Lembrando o que eu disse sobre a retenção da memória subconsciente, vereis que, em tais casos não pode haver problema para reconhecer um filho, porque o pai viu o filho e observou seu crescimento da mesma maneira que o teria feito se a criança permanecesse na terra.
Deve haver, é claro, suficientes laços afetivos entre os dois, do contrário esta lei não funciona. Onde eles não existem, a conclusão é óbvia. O laço de afeição e interesse deve também existir entre todas as relações humanas no

mundo espiritual, seja entre marido e mulher, pai e filho ou entre amigos.   Sem êle é problemático que as pessoas se encontrem, a não ser ocasional e fortuitamente.
O reino das crianças é uma cidade em si, contendo tudo que grandes mentes, inspiradas pela Mente Suprema, podem fornecer para o bem-estar, conforto, educação, prazer e feli­cidade de seus jovens habitantes. Os templos do saber estão equipados com todo o necessário para a difusão do saber, daqueles que não o possuem ainda no menor grau, e que portanto precisam começar pelo começo. Isto se refere a crianças que morreram muito cedo. Crianças que deixam o mundo nos seus primeiros anos continuarão seus estudos onde os largaram, eliminando todos os que não lhes serão de uti­lidade futura, e acrescentando os espiritualmente necessários. Assim que alcançam idade adequada podem escolher seu futuro e estudar de acordo com suas preferências. E elas têm, como era de esperar, as mesmas oportunidades, os mesmos direitos à herança espiritual, como os temos todos, velhos ou novos.

E todos fixamos o mesmo alvo — a felicidade perfeita e perpétua.

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