segunda-feira, 2 de setembro de 2013

INDÍGENAS SE REVOLTAM CONTRA DECISÃO JUDICIAL

A liminar judicial expedida nesta sexta-feira (30), que ordena a retirada em até 72 horas dos indígenas e brancos que ocupam uma área de 7 milhões de metros quadrado à beira da rodovia Manoel Urbano (AM-070, que liga Manaus aos municípios de Iranduba e Manacapuru), levou cerca de 2,5 mil pessoas da invasão ao início da Ponte Rio Negro, onde protestaram contra a retirada das mais de 6 mil famílias que atualmente vivem no local.
Um grande contingente da Polícia Militar, tanto de Manaus quanto de Iranduba, se deslocou para controlar a situação. De acordo com o tenente Alexandre Matos, subcomandante da 8a Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) e à frente da operação, o plano dos ocupantes era interditar a única via de entrada por terra ao outro lado do rio, na entrada da ponte pelo município de Cacau Pirera, em protesto à decisão da Justiça.
“Negociamos com eles e pedimos para deixarem uma via livre, para o fluxo (de carros) passar. Depois, conseguimos negociar novamente o retorno deles até a área ocupada”, conta o tenente, que disponibilizou escolta policial à maioria indígena que realizou o trajeto de ida e volta à pé. “Eles querem visibilidade, quando a imprensa chegou eles se acalmaram”, completa o oficial.
Ainda segundo Matos, o terreno que deve ser devolvido pertence a uma igreja evangélica, mas o cacique Augusto Miranha, presidente do Movimento Indígena Por Uma Vida Melhor e uma das várias lideranças da ocupação, discorda. Miranha afirma que toda a área ocupada pertencia à uma única pessoa, a quem ele se referiu como “Seu Jânio”, que já faleceu.
“Nosso objetivo não é atrapalhar a sociedade nem desrespeitar a polícia ou o meio-ambiente. O índio só está ocupando o que é seu por direito, nenhuma das 15 pessoas que apareceram aqui dizendo ser proprietárias tinham um título de terra definitivo”, diz o indígena, que promete permanecer no local com as outras 40 mil pessoas, aproximadamente, até ter um diálogo com o Prefeito de Iranduba. “Uma vez que é da União, não tem dono; o índio pode se apossar”.
Entrando na ocupação
Foi permitido o acesso da imprensa na área, desde que acompanhada por um grupo de “guerreiros” – como são chamados os homens que fazem a proteção do local 24 horas por dia armados com lanças e arco e flechas, divididos em cerca de 100 pessoas por turno. Os indígenas mostraram o que eles disseram ser prova de degradação ambiental antes da chegada dos ocupantes, como desníveis causados supostamente por escavações e grandes areais.
No terreno, além de uma infinidade de barracos de madeira e lona, encontram-se vários mercadinhos, onde o bem mais valioso aparenta ser o gelo, pois é o item mais anunciado. Mas existem também outras “lojas”, como a R.C. Ferragem, que vende luvas, lonas, pregos, martelos e terçados. A comparação com o nascimento de um bairro é inevitável, ainda mais com o tráfego constante de carros e motocicletas. “São as coisas que precisamos para sobreviver, mas tudo é organizado e todos se dão bem”, garante Ismael Mura, um dos “guerreiros” que acompanhou o grupo de jornalistas.
“Quem desmatou aqui foi o Governo, que tirou areia para aterrar na entrada e saída da Ponte (Rio Negro), e as olarias, que derrubaram árvores pela madeira. Nós não seriamos capazes de abrir tudo isso em dois meses”, acusa Ismael. “Eles não querem preservar a natureza, querem é o areal de volta”, finaliza.
Às 16h, o prefeito de Iranduba Xinaik Medeiros dará uma coletiva de imprensa para esclarecer a liminar judicial expedida e adiantar como será feita a operação de retirada dos ocupantes e, consequentemente, a reintegração de posse.
Por: Victor Afonso
Fonte: A Crítica 

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