XV. Os Reinos Superiores
Já vos falei em várias ocasiões, das esferas superiores.
Há duas maneiras e somente duas, de penetrar nessas alturas. A primeira, é por meio de nosso desenvolvimento e
progresso
espiritual. A segunda, é por convite especial de algum morador dessas regiões. Qualquer outra maneira é-nos
vedada por invisíveis barreiras de impenetrabilidade espiritual.
Gostaria de vos falar sobre um convite especial que recebemos para visitar esses reinos elevados.
Estávamos sentados numa das salas térreas de minha
casa, de onde podíamos ver com perfeição todas as belezas
ao redor. Através de uma-brilhante e colorida paisagem,
podia-se ver a cidade à distância, tão claramente como se
estivéssemos perto. Edwin e eu conversávamos enquanto
Rute, sentada ao piano, tocava algo agradável, que parecia harmonizar-se, não
só com nosso ambiente, mas também com nossa disposição.
Rute ainda não se recuperara
de sua inicial surpresa ao ver um piano em sua casa. Ela era uma virtuose na
vida terrena, e nos descreveu o momento emocionante em que se sentou ao seu instrumento espiritual, como o chamou, e tirou o
primeiro acorde. Disse que ficou espantada porque o tom do seu piano era algo
que nunca pudera imaginar, tão perfeito em qualidade e de sonoridade
ilimitável. Sua surpresa não terminou aqui, porém. Descobriu que sua destreza
tinha aumentado cem vezes ao abandonar o corpo físico, mas que conservara a sua
técnica terrestre. Descobriu ainda que as mãos deslizavam ao longo do teclado,
sem o menor esforço, e que sua memória era como se tivesse a música aberta
perante os olhos.
Neste momento ela enchia o ar
com doces sons, auxiliando-nos a descansar, pois havíamos concluído uma pesada
tarefa durante o curso de nossa obra. Nós três trabalhávamos juntos e ainda o
fazemos — e geralmente descansamos e nos divertimos juntos. Na verdade, Rute e
Edwin passam mais tempo em minha casa do que na deles.
De repente, Rute parou de
tocar e correu para a porta. Espantados, seguimo-la e ficamos surpresos ao ver
duas maravilhosas personagens atravessando o gramado. Uma era o egípcio que me
dera tão bons conselhos ao chegar aqui, e se interessara tanto pelo meu
bem-estar. O outro era seu Mestre, que tinha acompanhado o grande visitante
celestial, naquela ocasião, no templo.
O Mestre do egípcio era um
homem de cabelos negros como o azeviche, combinando com um par de olhos que
traía grande senso de humor e alegria. Ficamos logo sabendo que era caldeu.
Adiantamo-nos para recebê-los e eles demonstraram todo
o prazer nessa visita.
Conversamos sobre vários
assuntos e Rute foi persuadida a terminar a peça que tocava quando tinham
chegado. No final, depois de a elogiarem, o caldeu abordou o assunto que o
trouxera.
Vinha trazer o convite da
Grande Alma — em honra de quem nós nos tínhamos congregado naquele dia — para
uma visita em seu lar das esferas superiores.
Nós três guardamos silêncio
por um momento. Rute e eu não sabíamos o que dizer para exprimir a gratidão de
receber tão grande privilégio. Edwin veio em nosso auxílio e agiu como nosso
intérprete. O caldeu estava divertido com o nosso embaraço e apressou-se a
assegurar-nos que nada tínhamos a temer. O que mais nos preocupava, creio, ou
melhor, nos intrigava, era a razão do convite, e como iríamos chegar até lá. De
fato, nem sabíamos onde era o lar. Quanto à nossa primeira pergunta, o caldeu disse que
se encarregava de nos fazer chegar ao nosso destino. Tentamos expressar nossos
sentimentos em palavras, sem o conseguirmos, pelo menos quanto a mim. Creio que
Rute e Edwin tiveram mais sucesso. Creio sinceramente que o caldeu é a criatura
mais alegre destas paragens. Menciono isto porque parece haver uma idéia em
algumas mentes de que quanto mais alta a personagem do espírito tanto mais
séria deve ser. Tal idéia é inteiramente falsa, acontece justamente o
contrário. Alegria sã vem do coração e não ofende ninguém, não é usada em
detrimento de ninguém, e tal alegria é encorajada e aceita no mundo espiritual.
Não há nenhuma inscrição gravada nos portais destes reinos como:
"Abandonai toda a alegria para aqui entrar!"
Edwin indagou de quando
deveríamos empreender a jornada e o caldeu replicou que êle e seu amigo egípcio
haviam vindo para nos levar agora. Eu estava calmo — todos estávamos — na
ignorância do processo de se fazer tal viagem, mas o caldeu logo assumiu o
comando, ordenando-nos para irmos embora. E fomos em direção aos limites dos
nossos reinos.
Ao caminharmos através de
bosques e prados, perguntei ao egípcio se êle me podia dizer algo sobre o
grande ser que íamos visitar. O que me contou foi muito pouco, apesar de eu ter
certeza de que sabia muito mais do que revelou. Provavelmente eu não entenderia
o que me poderia adiantar, e êle reteve mais informações.
O ilustre personagem na
direção de cuja casa nos encaminhávamos, era conhecido de vista por todas as
almas. Seu desejo era uma ordem, sua palavra, lei. O azul, o branco e o dourado
de sua vestimenta revelavam o estupendo grau de seus conhecimentos, sabedoria e
espiritualidade. Milhares o chamavam de Bem Amado Mestre, sendo um destes o
caldeu, que era seu braço direito. Quanto à sua função especial, êle era o
governante de todos os reinos do mundo espiritual e exercia coletivamente essa
função, assim como a função particular de governos individuais. Todos os outros
governantes, portanto, eram subordinados a êle, e êle, por assim dizer, unia
os reinos e soldava-os em um só, fazendo deles um vasto universo, criado e
mantido pelo Grande Pai de todas as coisas.
Tentar definir a imensa
magnitude de seus poderes seria tentar o impossível. Mesmo que o fizesse,
falharia a compreensão. Tais poderes não têm equivalente ou comparação com
qualquer dos poderes administrativos sobre a terra. Mentes terrenas podem
apenas evocar esses indivíduos que governam grandes reinos sobre a terra, que
anexam vastos territórios, por assim dizer, por meio do medo e que dominam seus
inferiores, como servos ou escravos. Nenhum rei mortal jamais presidiu sobre
tão vasto estado, como este personagem de quem falo. E seu reino é governado
pela lei universal da verdadeira afeição. O medo não existe, nem poderia
existir na menor fração, porque não há a mais leve causa para êle, nem jamais
haverá. Êle é o grande Elo invisível entre o Pai, o Criador do Universo e seus
Filhos.
Mas, não obstante a suprema
elevação da sua posição espiritual, êle baixa do seu lar celestial para nos
visitar, como já disse. E é permissível a outros, de grau muito inferior, ir
visitá-lo em sua casa.
Nada há de não-substancial,
vago, irreal acerca dele. Já o vimos em grandes dias festivos.
Êle não é apenas uma experiência espiritual, um grande soerguimento da
alma produzido dentro de nós por algo invisível. Êle é uma pessoa real, tão
concreta quanto a realidade que nós somos — e somos mais reais que vós na
terra, embora não o sabeis. Há noções erradas de que os seres superiores são
tão etéreos que chegam a ser invisíveis, exceto aos outros da mesma espécie; e
que são completamente intangíveis; que nenhum mortal inferior o pode ver e
sobreviver. Diz-se comumente que esses seres estão tão acima de nós que se
passarão eternidades antes que os possamos ver. Mas isso é absolutamente
errado. Muita alma destes reinos já foi abordada por esses grandes seres, sem estar absolutamente a par
do fato. Nós
todos temos certos poderes que são aumentados ao passarmos para esferas mais
elevadas, nos passos progressivos do nosso desenvolvimento espiritual. E um
desses poderes é ajustarmo-nos ao nosso ambiente. Nada há de mágico a respeito
disso. É altamente técnico — muito
mais do que os científicos mistérios do mundo terrestre. No mundo espiritual
chamamos isso de equalização de nossa porcentagem vibracional, mas receio que
com esta explicação ficastes na mesma! E não compete a mim tentar explicar!
O egípcio forneceu-me esses
detalhes e acrescentei-lhes algumas explicações de meu próprio saber, que na
verdade é bem pequeno.
A esta altura estávamos perto
da casa de Edwin e passando à atmosfera rarefeita. Logo ela nos causaria
desconforto se prosseguíssemos. Instintivamente paramos e sentimos que o
momento crucial de nossa jornada havia chegado. Era exatamente como o caldeu
dissera: nada tínhamos a temer. E prosseguimos normalmente.
Primeiro, êle aproximou-se
por trás de nós e pousou suas mãos por um breve momento sobre nossas cabeças. Isto, disse êle, era para nos dar poder extra
para movermo-nos através do espaço. Sentimos uma sensação estranha imediatamente
sob suas mãos, que era ao mesmo tempo agradável e exaltadora, e sentimo-nos
tornar mais leves, se bem que isso parece impossível. Podíamos também sentir um
suave calor que corria pelo nosso organismo. Isso era meramente o efeito do
poder, e nada em si. O
caldeu colocou Rute entre mim e Edwin e pôs-se bem atrás dela. Colocou a mão
direita sobre o ombro de Edwin e a outra sobre o meu, e, como usava um manto —
que vimos ser ricamente bordado — êle formava um perfeito abrigo para os três.
Esta visita deveria ser
maravilhosa para nós, como disse êle, e portanto deveríamos mostrar a alegria
de que estávamos embebidos, e nenhuma seriedade era necessária.
O caldeu disse-nos que ao
colocar suas mãos sobre nós, além de nos dar força para viajar, ajustava nossa
visão à intensidade extra de luz que iríamos encontrar. Sem essa precaução nos
veríamos em apuros.
Neste ajustamento nossa visão não era embaçada de dentro, mas
uma espécie de película era superposta de fora, da mesma maneira que na terra
vocês usam vidros protetores contra a luz e o calor do sol.
Em seguida êle pegou nossas
mãos nas dele e recebemos mais força na corrente assim transmitida. Pediu-nos
para nos tornarmos completamente passivos e lembrar que estávamos a caminho do
gozo e não para um teste de sofrimento. "Agora, meus amigos, nossa chegada
é aguardada. Partamos!"
Imediatamente nos sentimos
flutuar, mas essa sensação cessou abruptamente, pelo que nos pareceu uma fração
de segundo, e em seguida não houve mais sensação de movimento. Uma luz brilhou
perante nossos olhos. Ao desaparecer, sentimos o chão sólido sob os pés e
tivemos a nossa primeira visão do reino supremo.
Entráramos num domínio de
inimitável beleza. Nenhuma imaginação pode visualizar tal deslumbramento.
Estendendo-se perante nós
havia um largo rio, aparentemente calmo, pacífico e singularmente belo ao ser
tocado
pelo sol, tomando cada minúscula ondulação uma miríade
de tons. Ocupando o centro do quadro, na margem esquerda, havia um espaçoso
terraço que parecia ser de alabastro, à beira da água. Uma larga escadaria
conduzia ao mais deslum-brande edifício que a mente pode imaginar.
Era de vários andares, postos
em degraus, de maneira que cada um ocupava uma área menor, até atingir o cume.
Seu interior era simples e sem adornos. O edifício inteiro era composto de
safira, diamantes e topázios. Essas três pedras constituem o correspondente às
três cores que víramos nas vestimentas do visitante celestial.
Nossa primeira pergunta
referia-se à razão ou significado do material específico do prédio. Não havia
significado algum, segundo nos disse o caldeu. As pedras preciosas eram
próprias do reino que visitávamos. Em nossos reinos os edifícios são opacos,
mas meio translúcidos na superfície. Mas são compactos e pesados, em comparação
com os daqui. Viajamos através de muitas outras esferas, até chegarmos nestas,
mas tivéssemos nos detido para observar as regiões por que passamos, e teríamos
visto a gradual transformação que se efetua até que os nossos materiais
relativamente pesados transmudam-se em substância cristalina, sobre a qual
nossos olhos estavam pregados.
As cores porém tinham
certamente um significado especial.
Podíamos ver, cercando o
palácio, muitos acres dos mais deslumbrantes jardins, dos quais mal podíamos
desviar a vista. Mas o caldeu docemente chamou a nossa atenção para o restante.
Nossa vista se espraiava por
milhas de milhas, e espalhadas por elas, magníficas mansões construídas de
esmeraldas, ametistas etc, e ao longe, algo como pérola. Cada uma colocada no
meio de jardins graciosos onde cresciam árvores de inimitável beleza e de
formas grandiosas.
Para onde quer que
lançássemos os olhos, lá veríamos o brilho dos edifícios e jóias, as miríades
de flores, a cinti-lação da água do rio.
Enquanto olhávamos tudo,
embasbacados, houve um repentino clarão de luz que pareceu vir direto do
palácio para o caldeu, e este respondeu com outro raio de luz. Nossa presença
no reino já era conhecida, e depois de apreciarmos a beleza do panorama, fomos
convidados a caminhar até ao Palácio, onde o nosso anfitrião nos aguardava. Tal
era o significado dos raios emitidos.
Pela mesma maneira que
viéramos, nós nos achamos rapidamente no terraço acima do rio. O pavimento
deste era branco puro, e nos surpreendeu a maciez do solo, que parecia veludo
sob nossos pés. Nossos passos não faziam ruído, mas nossas vestimentas
farfalhavam ao caminharmos; caso contrário, o nosso caminhar teria sido
silencioso. Mas havia muitos outros sons. Não dávamos entrada no mundo
silencioso. O ar inteiro estava cheio de harmonias desprendidas dos volumes de
côr que abundavam por toda parte.
A temperatura nos parecia bem
mais elevada que a do nosso reino.
Ao adiantarmo-nos para a
entrada, eu, de bom grado, teria me demorado a admirar os materiais de que era
feito, mas o tempo urgia.
Nossa estada não podia ser
prolongada além de nossa capacidade de resistência à atmosfera rarefeita, e à
intensidade da luz, não obstante a força e proteção espiritual do caldeu.
Tão belamente proporcionados
eram os aposentos e galerias, que não sentíamos aquela sensação de sufocante
altitude, como seria de esperar num edifício de tais proporções.
Nas paredes havia quadros com
cenas pastorais, feitas de todas as pedras preciosas conhecidas. Essas pinturas
davam uma impressão de luz líquida, se é que se pode usar essa expressão. De cores encantadoras e de muito mais
variadas tonalidades do que
há na terra. Pareceu inconcebível que pedras preciosas pudessem fornecer tal
variedade de cores.
Ao caminhar sentíamo-nos,
desde a entrada, rodeados de uma atmosfera de calor e amizade, o que era
aumentado pelas boas-vindas calorosas dadas por seres encantadores.
Finalmente paramos perante um
pequeno salão e o caldeu nos contou que havíamos chegado ao fim de nossa
jornada. Não me sentia exatamente nervoso, mas imaginei que formalidades
seriam exigidas, e fiquei hesitante. O caldeu porém nos assegurou que devíamos
meramente observar as regras ditadas pelo bom gosto.
Entramos. Nosso anfitrião
estava sentado a uma janela. Assim que nos viu, levantou-se e veio nos
cumprimentar. Primeiro agradeceu ao egípcio e ao caldeu por nos terem trazido.
Depois tomou cada um pela mão, para nos dar as boas-vindas. Havia vários
assentos vagos perto do que êle ocupara e sugeriu que nos sentássemos para
gozar de sua vista predileta.
Ao aproximarmo-nos da janela,
avistamos um canteiro das mais magníficas rosas brancas, tão puras quanto um
campo de neve, e que exalavam um aroma maravilhoso. Rosas brancas, nos disse,
eram suas flores favoritas.
Sentamo-nos e tive a
oportunidade de observá-lo de perto enquanto falava; visto assim notei
diferenças do que êle me parecera à distância. Diferenças que eram quase uma questão
de intensidade de luz. Seu cabelo, por exemplo, parecia ser dourado quando nos
visitara, mas aqui parecia de clara luz dourada. Parecia jovem, de juventude eterna, mas
podia-se sentir a incontável eternidade de tempo que jazia por trás dela.
Quando falava, sua voz era
pura música, seu riso como água cascateante, e nunca imaginei possível poder
emitir tanta bondade, afeição e consideração, e nunca julguei que um indivíduo
pudesse possuir tal imensidão de sabedoria como êle. Sentia-se que,
abaixo do Pai do Céu, êle é que tinha a chave de todo o conhecimento. Mas, por
estranho que pareça, apesar de termos sido transportados a distâncias
incomensuráveis à presença deste ser transcendente e maravilhoso, nos
sentíamos contudo perfeitamente à vontade em sua presença. Ria conosco,
brincava, falava de suas rosas, dirigindo-se a cada um de nós individualmente,
exibindo exato conhecimento de todos os nossos assuntos, coletiva ou pessoalmente. Finalmente abordou a razão de
seu convite para o visitarmos.
Com meus amigos eu visitara
os reinos sombrios e contara o que vira lá. Êle achava que seria um agradável
contraste se visitássemos os planos superiores e suas belezas. Se mostrássemos
que os habitantes de tais lugares não são sombras irreais, mas pelo contrário,
como nós, capazes de sentir e mostrar as emoções de suas naturezas esplêndidas,
capazes de compreensão humana, susceptíveis de riso fácil e alegria pura, como
nós mesmos.
Convidara-nos para essa
visita para nos dizer que estes reinos estão ao alcance de toda alma nascida
sobre a terra, e cujo direito ninguém nos pode roubar; e que apesar de levar-se
anos infindos para alcançar esse fim, havia meios ilimitados para nos auxiliar.
Esse, disse êle, é o grande e simples fato da vida espiritual. Não há mistérios;
é tudo simples, direito e desimpedido de crenças complicadas, religiosas ou
não. Não é preciso ser adepto de qualquer religião, que em si não tem
autoridade nenhuma para assegurar às almas o poder de garantir a salvação. Nenhum grupo religioso, que
alguma vez tenha existido, pode fazê-lo.
E assim, este reino de beleza
incomparável está livre e acessível a todos que trabalham na mais ínfima
condição. Poderá levar eternidades para se realizar, mas esse será o grandioso
epílogo da vida de milhões.
Nosso bom amigo, o caldeu,
mencionou então que nossa estada chegava a seu limite.
Quando nos erguemos, não pude
resistir à tentação de olhar as rosas pela janela, uma vez mais.
Nosso anfitrião disse que nos
acompanharia até à colina de onde tivéramos nossa primeira visão de seu reino.
Seguimos um caminho diferente dessa vez, e qual não foi o nosso prazer quando
êle nos conduziu diretamente ao canteiro das rosas brancas. Curvou-se e colheu
três das mais perfeitas flores que jamais vira, e presenteou-nos a cada um com
uma rosa. Nossa alegria era maior ainda por saber que com a afeição que
sentíamos por elas, nunca murchariam e morreriam. Minha preocupação era apenas
que, em caminho para casa, fossem amassadas pela desusada densidade de nossa
atmosfera mais pesada.
Mas êle assegurou-nos que
isso não aconteceria, porque seriam amparadas pelo seu pensamento.
Finalmente alcançamos o ponto
de partida. Palavras não exprimiriam o nosso sentimento, mas os nossos
pensamentos passaram a êle, que nos havia dado essa suprema felicidade, esta
antecipação do nosso destino — o destino de todos os entes da terra.
Com uma bênção para todos,
desejou-nos, sorrindo, uma boa viagem, e nós partimos.
Tentei descrever algo do que
vi, mas as palavras são poucas porque não posso traduzir o espiritual em termos
terrenos.
Para dar-vos uma descrição
exata eu levaria uma existência enchendo volumes, e portanto escolhi o que
achei que seria de mais interesse e benéfico. Meu sincero desejo é que tenha
despertado vosso interesse, vos tenha afastado por uns momentos da vida
terrena, e dado uma idéia do mundo que jaz além daquele em que agora viveis.
Se voz trouxe uma partícula de conforto, e boa
esperança, então minha recompensa é grande e eu diria: Benedicat
te omnipotens Deus.
Leia este livro
HISTÓRIA DO ESPIRITISMO
CONAN DOYLE
A pena de um escritor de
renome mundial foi fiel aos impulsos de um grande cérebro, que não podia ficar
indiferente diante de uma doutrina que, de longa data, agitava os meios
religiosos, literários e científicos da Europa e da América.
Por certo, quando Allan Kardec
codificou o Espiritismo, lançando a público O Evangelho Segundo o Espiritismo,
o Livro dos Médiuns e vários outros, muitas mentes sequiosas de saber teriam
indagado qual a origem da doutrina que, naquela época, tomava corpo e conquistava
terreno até nos mais humildes lares; que atraía a atenção dos meios
aristocráticos e que surpreendia sábios como William Crookes, com suas notáveis
experiências com Katie King.
Sem querer remontar às
tenebrosas eras primevas da Humanidade, já encontramos no Egito o Livro dos
Mortos e os misteriosos hie-róglifos, cuja chave Champollion legou à Humanidade,
que revelam a firme crença do povo egípcio numa vida post-mortem, dedicando,
aos que se foram, um culto especial.
Vários volumes seriam,
portanto, necessários para um empreendimento de tal vulto, isto é, a História
do Espiritismo, desde as suas primeiras manifestações no mundo. Entretanto,
esse trabalho gigantesco não veria colunado o seu objetivo, por falta de fontes
históricas que o alicerçassem, e teríamos de ingressar no domínio das lendas
ou de insustentáveis tradições.
Foi por isso que Conan Doyle,
como Presidente da Federação Espírita Internacional, além de outros honrosos
títulos que exornaram a sua personalidade, empreendeu o estudo da História do
Espiritismo, a partir do célebre vidente Emanuel Swedenborg, e trouxe-nos, a
mancheias, os relatos dos mais emocionantes episódios provocados pelo
Espiritismo na Europa e na América, satisfazendo a nossa curiosidade com fatos
verdadeiramente inéditos.
Como primeiro livro que se
publica em língua portuguesa, a História do Espiritismo, de Conan Doyle, vem
preencher uma lacuna de há muito existente nas bibliotecas dos aficio-nados do
assunto, que têm agora, à sua disposição, uma obra que prima pela seriedade e
pelo valor de seu autor.
EDITORA O PENSAMENTO
Anthony
Borgia
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