sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A VIDA NOS MUNDOS INVISÍVEIS -BL X OCUPAÇÕES

XI.  Ocupações

O mundo espiritual é não só uma terra de oportunidades idênticas para todos, mas essas oportunidades são de uma escala tão vasta que nenhuma pessoa encarnada pode ter a menor idéia de sua magnitude. Oportunidades para quê? — perguntareis. Para o bom, o útil e o interessante trabalho. Espero que, a esta altura, já tenha feito notar que o mundo espiritual não é uma terra de ociosidade, um lugar onde seus habitantes passam a existência numa atmosfera de super-êxtase religioso, oferecendo formalmente louvores e orações ao Grande Trono, numa corrente ininterrupta. Há uma corrente, com certeza, mas de maneira muito diferente. Surge dos corações de todos que estão felizes e gratos por se acha­rem aqui.

Quero tentar dar uma leve idéia da imensa variedade de ocupações a que podemos nos dedicar aqui.
Vossos pensamentos se voltarão imediatamente para as
muitas modalidades de ocupações do mundo, mas atrás delas
sempre a necessidade urgente de se ganhar a vida, de
prover o corpo físico com comida e bebida, roupa e habi-
tação de alguma qualidade. Bem, sabeis que essas consi-
derações não existem entre nós, visto que alimento e bebida
não são necessários, assim como roupas e habitações. Con-
forme foram nossas vidas na terra, assim serão nossas roupas
e domicílios quando aqui chegamos. Não temos, pois, neces-
sidade física de trabalho, mas sim, mental, e por causa disso
o trabalho é um prazer aqui.                                              

Imaginemo-nos num mundo onde ninguém trabalha para viver, mas onde todos trabalham pela pura alegria de fazer algo útil aos outros. Imaginai isso e começareis a compreender algo da nossa vida.
Muitas ocupações não têm razão de ser nestes reinos. Embora úteis e necessários, pertencem a um período essencialmente terreno da vida. O que acontece então às pessoas que as praticam? Descobrirão imediatamente que deixaram suas vocações terrenas para trás porque a necessidade de subsistência física não mais existe, e em lugar disso tais pessoas sentem-se gloriosamente livres para se ocuparem em algum novo trabalho. Não precisam mais indagar do que são capazes: logo acharão algo que lhes atrairá a atenção e interesse. E não demorarão muito a se unir a seus compa­nheiros para aprenderem alguma ocupação nova.
Até aqui me referi ao trabalho abstratamente. Sejamos mais específicos, considerando alguns dos seus aspectos físicos, e para isso vamos à cidade.
Em caminho atravessamos belíssimos jardins que foram algum tempo desenhados e criados. Aqui, digamos, está o primeiro meio de atividade. Milhões de pessoas na terra amam os jardins e o seu trato. Que poderia haver de melhor do que continuar aqui com seu trabalho, fora das exigências físicas, livres e despreocupadas, e com os inesgotáveis re­cursos do mundo espiritual às suas ordens? Podem parar quando bem entendem e retomar o trabalho quando desejam, visto que não ninguém para impor-lhes sua vontade. E qual é o resultado? Felicidade para si próprios, porque ao criarem uma bela obra de arte horticultura eles aumentaram a beleza de um lugar belíssimo, e assim trouxeram felicidade aos seus semelhantes. Assim continuam sua tarefa, alterando, reformando, planejando, embelezando, construindo e sempre adquirindo mais e mais perícia. Assim continuam até que desejem mudar de trabalho, ou até que seu progresso espi­ritual os leve para novos campos.   
Agora vejamos o templo da música, e que atividade po­demos achar lá. Alguém, é claro, tinha que planejar, e outros tinham que construir o templo, propriamente. falei a respeito da construção do anexo da biblioteca. Em todas as construções grandes o método seguido é o mesmo, mas aqui êle tem de ser aprendido, e a obra de arquitetos e construtores, com seus vários assistentes técnicos, está entre uma das mais importantes do mundo espiritual. Toda espécie de atividade está aberta a qualquer um que goste dela. Mas é surpreen­dente ver quão rapidamente se ganha eficiência pelo estímulo da vontade. A vontade de fazer é transformada em habi­lidade de fazer em muito pouco tempo.
Na seção de música temos bibliotecas onde os alunos se ocupam em seus estudos. A maioria está aprendendo a ser musicista, isto é, aprendendo a tocar um ou mais instrumentos. E alguém tem que fornecer-lhe os necessários instrumentos, por isso os fabricantes de instrumentos da terra se acham à vontade em sua arte, se desejam continuar a exercê-la. Bem, agora podemos observar que uma existência inteira passada na terra a exercer uma especialidade seria mais do que suficiente para a maioria, e que retomar essa mesma atividade, com sua interminável rotina seria a última coisa que se desejaria. Mas lembrai-vos do que disse acerca da liberdade nestas paragens, e o fato de que ninguém é obrigado, nem por força das circunstâncias, nem por mera

necessidade de subsistência, a fazer qualquer trabalho no mundo espiritual. Lembrai-vos de que todo trabalho é volun­tário, por simples amor e orgulho de criar algo, e pelo desejo de ser útil a outros habitantes do reino.
Incidentalmente, devo mencionar que não é imperativo adquirir um instrumento musical por intermédio do templo da música. Qualquer pessoa o pode fabricar para uma outra que o necessite. Em muitas casas há — e não como mero ornamento — um belo piano construído por mãos destras que aprenderam os métodos espirituais da criação. Essas coisas não se podem criar, são recompensas espirituais. Seria inútil tentar possuir aquilo a que não temos direito.
Antes de prosseguirmos, olhemos a biblioteca. Aqui há partituras musicais aos milhares, juntamente com vários solos para instrumentistas. A maioria das grandes orquestras obtêm suas músicas do templo da música. Têm liberdade de pedi-las emprestado sempre que o desejar, mas alguém tem que duplicar as partes musicais. E essa é outra importante e produtiva ocupação. Os bibliotecários que cuidam das músicas, e que atendem às necessidades do público, preenchem outra tarefa útil. E assim, os pormenores podem ser multi­plicados, indo da pessoa que apenas ama a música àquelas que são instrumentistas e regentes.
Na seção de tecidos, dá-se o mesmo. A qualquer mo­mento que desejar, posso juntar-me aos estudantes que apren­dem a tecer os mais encantadores tecidos. Acontece, porém, que meu interesse está noutro setor, e minhas visitas aqui são puramente de recreio. Rute entretanto, passa certo tempo estudando e já é perita em tapeçaria. É para ela, em parte estudo e ocupação, em parte, recreação. Já teceu algumas belas tapeçarias, das quais Edwin e eu possuímos duas belís­simas, em nossas paredes. Pode-se obter qualquer material que se deseja, ou, como no caso da música, pode-se pedir a algum artesão para fazer o que se deseja. Nunca se ouve uma recusa, nem se tem de esperar longo tempo para receber o que se quer.
Bem, dei apenas uns dois ou três exemplos do que é pos-sível a uma pessoa fazer aqui. Há outros milhares, que formam um grande campo de atividades. Imaginai os mé­dicos que aqui continuam sua obra. Não que necessitemos deles como tais, mas porque aqui podem trabalhar com colegas que investigam as causas das doenças e moléstias na terra, e podem ajudar a aliviá-las. Muito médico espiritual já guiou a mão de um cirurgião da terra enquanto este realiza uma operação. O médico terreno provavelmente nem se dá conta do fato, e ridicularizaria qualquer insinuação de que está recebendo auxilio de uma fonte desconhecida. O médico espiritual contenta-se em auxiliar, sem reconhecimento algum do auxiliado. É o resultado final que lhe interessa e não o crédito. Em tais casos, o médico da terra faz interessantes descobertas, ao chegar finalmente ao mundo espiritual.
Os cientistas também continuam suas pesquisas ao chegar aqui. Qualquer que seja o ramo de ciência que lhes interesse, aqui acharão mais do que o suficiente para ocupar sua atenção por bastante tempo. Assim também, o engenheiro e muitos outros. Na realidade, seria impossível, ou pelo menos um tanto enfadonho talvez, percorrer a longa lista de ocupações já tão conhecidas da terra. Mas por ora podeis ter uma idéia do que pode oferecer o mundo do espírito. Tudo o que temos em nossas galerias, em nossas casas, em nossos edifícios e jardins, tem de ser feito, ser modelado, ou criado — e isso exige alguém que o faça. A necessidade é constante e o suprimento constante, e será sempre assim.
Há, porém, outra seção da indústria vitalmente necessária e inerente ao mundo espiritual.
A porcentagem de pessoas que chegam aqui sem conhe­cimento de sua nova vida e do mundo espiritual é baixa, deploràvelmente baixa. Todas essas inúmeras almas precisam ser ajudadas e sua perplexidade, cuidada. Esse é o tipo de trabalho em que Edwin, Rute e eu estamos ocupados e que atrai muitos ministros de Deus.
Nas mansões de repouso há enfermeiras e médicos para tratar daqueles cuja última enfermidade na terra foi longa e dolorosa, ou cujo passamento foi violento e repentino. Há muitas dessas casas que são um monumento perene de vergonha para o mundo. É certo que a morte possa ser repentina e violenta — isso é inevitável no presente — mas é uma vergonha para a terra que tantas almas aqui cheguem inteiramente ignorantes do que lhes virá no após. Esses lugares de repouso se multiplicaram consideravelmente desde que aqui cheguei; em conseqüência disso houve necessidade de mais enfermeiras e médicos.
Como tal trabalho pertence exclusivamente ao mundo espiritual, temos escolas especiais para aqueles que, gostando dessa atividade, desejam se aperfeiçoar. Ali, eles aprenderão muito do que se refere ao tratamento científico do corpo em si e da mente espiritual. Adquirem um conhecimento geral dos caminhos da vida espiritual, ao mesmo tempo que têm de transmiti-lo a pessoas que geralmente nada sabem do seu novo estado. Eles terão que aprender os fatos da inter-comunicação entre o nosso mundo e o vosso. É surpreen­dente ver quantas pessoas que aqui chegam querem voltar correndo, para contar aos que ficaram, a grande descoberta de estarem em outro mundo.
Muitos requerem um longo repouso após a morte. Essas almas, cuja atenção está sempre dividida por igual entre a terra e o espírito, exigem uma alta proporção de saber espi­ritual, assim como tato e discrição por parte das enfermeiras e médicos.
Ao mencionar uma ocupação não quero prejudicar outra, nem fazer crer que os que acabei de mencionar tenham prece­dência sobre os outros. Escolhi uma ou duas por terem a aparência tão material e para sublinhar o que já tentei demonstrar repetidamente — que vivemos num mundo prá­tico onde nos ocupamos em tarefas úteis e individuais, e não passamos o tempo todo num êxtase de religiosidade, perpetua-mente imersos em meditação.
Mas que dizer das pessoas que nunca fizeram algo útil durante a vida? Tudo que posso dizer é que tal pessoa não

chegará até estas paragens até ter merecido a entrada por meio de trabalho.
Fazer relação de todas as atividades seria longo demais e exaustivo. Na verdade, fico com a mente tolhida só em pensar em contar tal número, por causa da minha incapa­cidade de fazer justiça a todas. Nas esferas científicas de puro labor, milhares e milhares de pessoas dedicam-se, muito felizes, ou às provas dos segredos da terra, ou às investigações dos do mundo espiritual.
Ciência e engenharia sendo co-aliadas, têm feito lon­gínquas descobertas e aperfeiçoado inventos. Esses não são para nós, mas para vós — quando chegar o tempo, e isso ainda não é agora. A terra tem dado pobres evidências do que se tem feito por ela no mundo espiritual. O homem tem usado sua vontade livremente, mas aplica-a na direção errada, o que por fim acarreta a sua destruição. A mente do homem está apenas na infância, e uma criança torna-se perigosa se tem livre uso do que a pode destruir. Daí ser mantido oculto muito que lhe pode ser prejudicial, até o dia em que alcançar maior desenvolvimento. O dia virá certamente, e uma avalanche de novas invenções se despencará sobre o vosso mundo.
Nesse meio tempo, o trabalho constituído de pesquisas, investigações, descobertas e invenções continua: é um trabalho que absorve muita gente. Nada quebra a ordem rotineira das nossas atividades. E enquanto elas continuam, podemos nos afastar um pouco, para descançar ou para seguir outra linha de trabalho. Não temos disputas, nem transtornos domésticos, nem rivalidades para produzir insatisfação ou desagrado. O mais humilde de nós sente que seu trabalho significa algo, por mais modesto que pareça ao lado de outros aparentemente mais importantes. No mundo espiritual, trabalhar é ser profundamente feliz pelas inúmeras razões, que já vos citei.

Não há ninguém aqui que não confirme minhas palavras com todo o coração e sem reservas!
XII.  Gente Famosa


Deixar o mundo e fixar residência permanente no mundo espiritual não é tão grande transformação como muitas pessoas poderiam imaginar. Ê verdade que para muitos, todos os laços terrenos são cortados, mas quando passamos para o mundo espiritual encontramos novamente aqueles parentes e amigos que morreram antes de nós. Nesse ponto iniciamos um novo capítulo em nossa existência, completamente à parte, numa vida nova, que começa com a entrada no mundo do espírito.
Os encontros com parentes e amigos são algo que precisa ser experimentado a fim de que se possa apreender o com­pleto significado e alegria da reunião. Tais encontros tomam lugar onde há simpatia mútua e afeto. Não consideraremos outra coisa por ora. Esses encontros continuarão por algum tempo depois da chegada do novo morador. É natural que na novidade, tanto do ambiente como das condições, se perca gran­de tempo na troca de opiniões, e em ouvir tudo a respeito do que se passou na vida espiritual daqueles que nos precederam na morte. Eventualmente chegará a hora em que o recém--chegado começará a considerar sobre o que fazer em sua vida espiritual.
Bem, poder-se-ia dizer que na terra a maioria de nós possui uma dupla existência — a vida do lar e a dos negócios ou ocupações. Nesta, associamo-nos talvez com um grupo inteiramente diferente. É natural, portanto, que aqui também aconteça isso. O cientista, por exemplo, encontrará primeiro suas ligações familiares. Quando se tocar no assunto de trabalho êle se achará entre seus velhos colegas que aqui o precederam, e logo se verá em casa e se sentirá encantado ao saber das pesquisas científicas que se exibem na sua frente. O mesmo se dá com o pintor, o músico, o escritor, o engenheiro, o médico, o jardineiro, o pedreiro, ou o homem que tecia tapetes para uma fábrica, para mencionar apenas uma fração das inúmeras ocupações, tanto da terra como do espírito. Ver--se-á então que a pergunta que intriga muita gente — "Que

fim tiveram as pessoas famosas?" — está praticamente respon­dida.
A fama no mundo espiritual é enormemente diversa da do mundo terreno. A celebridade espiritual se consegue unica­mente de uma maneira — em serviço a outros. Parece até simples demais, mas é assim mesmo e nada o pode alterar. Se os personagens famosos residirão ou não nos reinos de luz imediatamente após sua morte, depende só deles. A lei se aplica a todos, sem levar em conta a posição terrena.
Uma certa curiosidade referente ao destino de pessoas bem conhecidas na terra, é natural, pois é bastante o mero fato de terem sido famosas. Mas nada desperta mais curio­sidade do que as celebridades da História. Onde estão aqueles mestres da sabedoria, aqueles nomes tão familiares dos livros de História? Devem estar algures. Grande número deles se encontra nos reinos escuros, onde estão já há séculos e onde provavelmente continuarão por outros tantos. Outros estão nos reinos de luz e beleza porque suas nobres vidas sobre a terra mereceram esse prêmio. Mas há muitos e muitos que se acharão dentro daqueles reinos intermediários que já tentei descrever.
Darei um exemplo para o qual reuni alguns pormenores. Refere-se ao passamento de um personagem real. Tomei este exemplo porque, apesar de extremo, demonstra mais clara­mente do que qualquer outro os princípios que governam a vida em geral.
Neste caso em particular já sabíamos de antemão que esse personagem estava para chegar. Seus compatriotas natu­ralmente estavam interessados no que ia acontecer. A própria família, como todas daqui, estava aguardando sua chegada. Uma curta enfermidade ocasionou seu passamento, e assim que este se deu, êle foi trazido para a casa de sua mãe, que já tinha tudo pronto. A casa nada tem de excepcional, é igual a tantas outras daqui. A notícia de que ele ia chegar se espalhou. Não houve júbilo universal como se daria na terra, mas sim uma felicidade como a que se sente à chegada

de qualquer ente querido. E ali êle permaneceu por algum tempo, gozando a liberdade de ação e simplicidade de vida que lhe fora negada na terra. Inúmeros conhecidos já vieram indagar dele, mas não o viram ainda. Houve uma enorme reunião da família e assim que se achou suficientemente repousado, saiu a ver as maravilhas da nova vida.
Reteve em grande parte sua antiga e costumeira aparência pessoal. Os sinais de doença e cansaço mental e corporal tinham desaparecido e êle parecia muitos anos mais jovem. Quando passeava foi reconhecido pelo que havia sido e respeitaram-no, mas foi ainda mais honrado e homenageado pelo que era agora.
Direis agora que assim que êle encontrou seus compa­triotas estes poderiam talvez ter manifestado algum embaraço e uma vaga desconfiança, tal como aconteceria no plano terres­tre. Mas durante o período de recuperação muito lhe foi expli­cado a respeito das condições de vida, seus métodos, suas leis e costumes agradáveis. Tais revelações o encheram de felicidade, pois sabia que tão logo deixasse o retiro da casa de sua mãe, êle o poderia fazer com a liberdade só achada nas paragens espirituais, onde os habitantes o considerariam apenas um homem simples, desejoso de se reunir a seus irmãos de felici­dade. Sabia que seria tratado como igual. Quando, portanto, em companhia de membros da família, andou por estes reinos numa viagem de descoberta, não sentiu em si nem nos outros qualquer sentimento de desconforto mental. Ninguém se referia à sua posição terrena a menos que êle próprio o fizesse, e assim não havia suspeita de propósitos inquisitoriais, ou curiosidade ignorante.
Podereis pensar que alguém que já ocupou tão elevada posição na terra provocaria nas mentes de outrem idéias de pena, diante de tamanha mudança de posição. Mas tais sentimentos não são desejados nem permitidos nestes reinos, pela simples razão de que não há ocasião para tal. Deixamos para trás nossa importância terrena e não nos referimos a ela senão para mostrar, pelas nossas próprias experiências, aos ainda encarnados, o que se deve evitar. Não revivemos nossas memórias com o intuito de autoglorificação ou para impres­sionar os ouvintes. Eles, na realidade, não se impressionariam e reconhecemos que é apenas o valor espiritual que vale. Perspectivas e pontos de vista se alteram completamente ao chegar aqui. Por mais poderosos que fôssemos na terra, é o valor espiritual que nos dá o direito a um lugar no mundo espiritual, e são as ações de nossa vida, sem considerar a posição social, que nos darão nossa futura colocação. A posição é esquecida, mas ações e pensamentos são testemunhas por nós ou contra nós, e assim tornamo-nos nossos próprios juizes.
Não é difícil ver que, quando aquele personagem real chegou ao mundo espiritual, como outros de sua família antes dele, não teve que enfrentar dificuldades ou situações embaraçosas. Pelo contrário, toda situação parecia simpli­ficar-se e dar a sua própria solução.
Bem, o que se dá com este personagem aplica-se igual­mente a todos os que foram famosos na terra. Mas como reage diante disso um cientista famoso, digamos, ou um com­positor, ou pintor? São nomes famosos e quando temos ocasião de nos referirmos a eles usamos os nomes pelos quais eram conhecidos. Aqui, no mundo espiritual, preferem não ser chamados de mestres ou gênios. Seus nomes, por mais famosos que tenham sido, não querem dizer mais nada, e eles severamente repudiam tudo o que, mesmo remotamente, se aproxime da adoração de heróis que a terra costumava lhes conceder.   São apenas um de nós, e como tal são tratados.
A lei de causa e efeito sempre existiu no mundo do espírito, e a ela estão sujeitas, tanto as almas das pessoas que viveram obscuramente na terra, quanto as daquelas que foram mundial­mente famosas. Nestes reinos, qualquer um está sujeito, cedo ou tarde, a encontrar pessoas cujos nomes são famosos na terra. Essa gente célebre, porém, não tem nenhum apego ao mundo terreno. Deixaram-no para trás, e muitos dos que passaram para cá há milhares de anos estão felizes por não terem ocasião de relembrar sua vida na terra. Sofreram tão violenta transi­ção que agora ficam satisfeitos em considerar apenas o presente, e deixaram a marca do passado fora da memória.
As pessoas da terra poderão achar estranho caminhar por aqui, misturando-se a pessoas que viveram há centenas de anos atrás. É um encontro do passado com o presente eterno; mas para nós não é estranho, apenas para os recém--chegados. A discrição é algo que aprendemos cedo a usar, e está em nós nunca bisbilhotar os fatos e circunstâncias da vida de outras pessoas. Isso não impede que se discuta a nossa vida anterior, mas só se a iniciativa partir da pessoa que se tem em vista. Se ela quiser falar a alguém sobre sua vida terrena sempre encontrará ouvidos pacientes e compreensivos.
Estais vendo, pois, que nossa vida terrena é estritamente nossa. A discrição que temos é universal — demonstramo-la e recebemo-la. E qualquer que tenha sido a nossa posição formal na terra, nestes reinos somos unidos espiritualmente, intelectualmente, temperamentalmente, e nessas características humanas, tanto em nossos gostos como desgostos. Somos um só; atingimos o mesmo estado e o mesmo plano de existência. Cada novo rosto que entra nestes reinos recebe a mesma acolhida cordial, sem qualquer referência ao que era na terra.
Poder-se-á encontrar muita gente famosa, em toda parte, e entregue a toda espécie de ocupação. Todos são acessíveis sem formalidades de qualquer espécie.
Não há necessidade de apresentações a homens e mulheres que foram famosos. Seus dons estão à disposição de todos. Os grandes, que atingiram essa grandeza por meio do gênio, se consideram apenas os humildes seres de uma vasta organização  Todos lutam pelo mesmo propósito, isto é, progresso e desenvolvimento espiritual. Ficam reconhecidos por qualquer ajuda em direção a esse objetivo e sentem-se felizes por dá-la o máximo possível.
As riquezas e honrarias da terra parecem vulgares e baratas em comparação com as riquezas e honras que estão prontas a serem ganhas aqui. E estão ao inteiro alcance de cada alma no instante em que aqui chega. São seu direito de nascença, de que ninguém a pode privar. A grandeza terrena pode parecer muito tangível quando estamos no meio dela. Mas descobrimos ao morrer como a grandeza espiritual é concreta e permanente. Nossa proeminência terrena desvanece-se ao chegarmos, e ficamos sendo o que valemos, e não o que fomos.
Vários personagens famosos me têm falado do seu des­pertar no mundo espiritual, e me disseram do choque da revelação de verem-se pela primeira vez como realmente eram.
Mas muitas vezes a grandeza da posição terrena anda a par com a grandeza da alma e assim o progresso espiritual e desenvolvimento continuam sem intermissão para todo o sempre.

Continua no próximo Bloco - Organização 

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