IX. Pessoa Espiritual
Como nos sentimos ao tornarmo-nos espíritos? Essa é uma questão já suscitada em mentes de muita gente. Se, ao contrário, perguntássemos: como se sentem as pessoas da
Terra?, estaríamos inclinados a responder que a pergunta
é meio tola, porque tendo sido encarnados já deveríamos
saber. Mas antes de ser afastada
a questão, vamos ver o que se pode dar como resposta.
Antes de mais nada consideremos o corpo físico. Êle
sofre fadiga, pelo que é necessário ter descanso; sente fome e sede e deve ser provido de alimento e bebida; êle pode
sofrer tormentps e dores por meio de uma grande variedade
de doenças; pode perder seus membros através de acidentes
ou por outras causas. Os sentidos podem tornar-se embotados
pela idade ou acidentes, podem causar a perda da vista ou da audição; ou então o corpo físico pode vir ao mundo
privado de algum sentido ou incapaz de falar. O cérebro
físico pode ser afetado tornando-nos incapazes de ações
sadias e, conseqüentemente, temos que ser cuidados por
outros.
Que tenebroso quadro, direis! Assim é, mas qualquer
um pode ser vítima de pelo menos uma infelicidade, dessa
lista de limitações que mencionei. Pelo menos três são
comuns a toda alma na terra — a fome, a sede e a fadiga.
Agora eliminemos completa e
inteiramente cada uma dessas incapacidades; excluamos infalivelmente e para
sempre suas causas, e teremos a idéia do que significa ser uma pessoa
espiritual.
Quando eu estava na terra
sofri alguns dos padecimentos comuns a nós, sofrimentos que não são sérios e
devemos encarar como naturais: dores pequenas que conseguimos suportar. Além
dessas dores, estava cônscio de meu corpo físico pela manifestação da fome,
sede, e fadiga. A doença final — a mais séria — foi demais para o pobre corpo e
sobreveio a minha transição. Imediatamente senti o que é ser uma criatura do
espírito.
Ao deparar com Edwin
sentia-me fisicamente um gigante, apesar do fato de que acabava de deixar um
leito de doença. Com o passar do tempo senti-me melhor ainda. Não tinha a
mínima sombra de dor e sentia-me leve como se na verdade não tivesse corpo algum.
Minha mente estava completamente alerta e eu me dava conta de meus membros
somente quando precisava mover-me, aparentemente sem nenhuma das ações
musculares que me eram até então familiares. É muito difícil explicar essa
sensação de perfeita saúde, porque é uma coisa impossível na terra, e portanto
não há nada com que eu possa traçar uma comparação ou formar uma analogia. Esse
estado pertence ao espírito apenas, e desafia por completo qualquer descrição
em termos terrestres. Deve ser experimentado, e isso é impossível até que nos
encontremos aqui.
Já disse que minha mente
estava alerta mas isso não diz tudo. Descobri que minha mente era um verdadeiro
depósito de fatos referentes à minha vida passada. Cada ação que eu realizara
e cada palavra emitida, cada impressão recebida, cada fato sobre que eu lesse,
cada incidente testemunhado, tudo isso descobri estar indelevelmente
registrado em meu subconsciente. E isso é comum a toda pessoa espiritual que
já teve vida encarnada.
Não julguem que somos continuamente
assombrados por uma louca fantasmagoria de uma miscelânea de idéias e
impressões. Seria um verdadeiro pesadelo. Não. Nossas mentes são como uma
biografia completa da vida terrena, onde está anotado cada pormenor referente a
nós mesmos, arrumado em ordem e onde não se omite coisa alguma. O livro está
fechado, mas está ali, sempre à mão, para consultarmos e meramente recordarmos
os incidentes, se o desejarmos.
A descrição que vos dei dessa
especial memória da alma, traz à tona outras leis, como já tentei mostrar. Não
estou preparado para explicar como, apenas posso dizer o que acontece.
Essa memória enciclopédica de
que somos dotados, não é difícil de compreender quando nos detemos para
considerar nossa memória média na terra. Não se é continuamente incomodado
pelos incidentes de toda a nossa vida, mas eles estão simplesmente à mão para
se recordar, querendo. Um incidente desencadeará uma corrente de pensamentos em
que a memória participará. Às vezes não se pode solicitar o que há na memória,
mas no mundo espiritual isso é imediatamente possível, sem esforço e sem
falhas. O subconsciente nunca esquece e assim nosso passado se torna censura ou
não, de acordo com a nossa vida terrena. As anotações sobre as placas da
verdadeira mente não podem ser apagadas. Lá estão para todo o sempre, sem
necessariamente nos perseguir, porque nessas anotações estão também as boas
ações, os bons pensamentos e tudo de que possamos justamente nos orgulhar. E se
estão escritas em caracteres maiores e mais enfeitadas do que os fatos que
lamentamos, tanto melhor.
É claro que quando estamos no
mundo espiritual, nossas memórias são persistentemente retentivas. Quando
fazemos um curso de estudos sobre qualquer assunto, vemos que aprendemos
facilmente e rapidamente porque estamos livres das limitações que o corpo
físico impõe à mente. Se estamos adquirindo conhecimentos, reteremos esses
conhecimentos, sem dúvida nenhuma. Se nos estamos aperfeiçoando em algo que
requer destreza manual, veremos que nossos corpos espirituais respondem aos
impulsos de nossas mentes, imediata e exatamente. Aprender a pintar um quadro
ou tocar algum instrumento musical, para mencionar apenas duas atividades
comuns, são tarefas que levam apenas uma fração do tempo que nos tomariam
quando ainda encarnados. Ao aprender a fazer um jardim espiritual ou a
construir uma casa, veremos que a perícia exigida é atingida com igual
facilidade e rapidez; isto é, tanto quanto nos permitir nossa inteligência.
Porque não somos dotados de aguda inteligência no momento em que nos desfazemos
do corpo físico. Se assim fosse, estes reinos seriam habitados por super-homens
e supermulheres, e na verdade está longe disso! Mas a nossa inteligência pode
ser aumentada; isso é parte do nosso progresso. A mente tem ilimitados recursos
para expansão intelectual e melhoria, por mais atrasados que possamos ser
quando aqui chegamos. E o nosso progresso intelectual se adiantará certa e
firmemente, de acordo com o nosso desejo ou prazer de o fazer, sob a
orientação de capazes mestres de todos os ramos de ciências. E ao longo de
todos os estudos seremos assistidos por nossas memórias infalivelmente
receptivas. Não há esquecimento.
Agora passemos ao corpo
espiritual em si. Êle
é, geralmente falando, a réplica do corpo terreno. Quando chegamos aqui, somos
reconhecidamente nós mesmos. Mas deixamos para trás todas as nossas
incapacidades físicas. Temos membros, vista e audição, e todos os outros
sentidos funcionando perfeitamente. Na verdade os cinco sentidos, como os
chamamos na terra, tornam-se vários graus mais agudos quando desencarnamos.
Qualquer supernormal ou anormal condição do corpo físico, tal como excessiva
gordura e ma-greza, desaparece quando chegamos a estas paragens.
Há uma fase em nossas vidas
na terra que se chama a flor da idade. É nessa direção que todos nós nos encaminhamos.
Aqueles que são idosos, ao passarem a espírito, voltarão a esse período. Outros
que são jovens se adiantam até essa fase, e todos nós preservamos as nossas
naturais características que nunca nos abandonarão. Mas descobrimos que muitos
traços menores, que podemos muito bem dispensar, são eliminados juntamente com
nossos corpos físicos — certas irregularidades do corpo com que tenhamos
nascido, ou que nos advieram com o correr dos anos. Quantos de nós, gostaria eu
de saber, não terão alguma sugestão a fazer no sentido de melhorar nosso corpo,
se fosse possível.
Já vos disse como as árvores
aqui crescem em absoluta perfeição — direitas e limpas, bem formadas porque não
há tempestades ou ventos para lhes curvar os jovens galhos e deformá-los. O
corpo espiritual está sujeito à mesma coisa. As tempestades da vida podem
distorcer o corpo, e se essa vida foi espiritualmente feia o corpo espiritual
será similarmente torcido. Mas se a vida terrena foi sã, o corpo espiritual
será correspondentemente são. Há muitas belas almas habitando um corpo terreno
disforme, assim como há almas más dentro de corpos bem formados. Mas no mundo
espiritual se revela a verdade a respeito de todos.
Como é a aparência anatômica
do espírito, perguntareis? É exatamente a mesma que a vossa da terra. Temos
músculos, nervos, ossos, mas não são da terra, são puramente do espírito. Não
sofremos indisposições — isso seria
impossível aqui. Portanto nossos corpos não requerem cuidados constantes para
se manterem em boa saúde. Aqui ela é sempre perfeita, porque temos um grau de
vibração tão elevado que gérmens causadores de doenças não podem entrar.
Subnutrição, no sentido em que é conhecida na terra, não existe aqui. Mas subnutrição
espiritual, isto é, da alma, certamente existe.
Será estranho pensar que um
corpo espiritual possua cabelos e unhas? Como queríeis que fôssemos? Não
seríamos repugnantes sem os traços anatômicos usuais? Isto parece uma afirmação
elementar, mas é às vezes necessário dar voz ao elementar.
Como é o corpo espiritual
coberto? Muita gente, para não dizer a maioria, desperta nestes reinos, vestida
com a cópia das vestimentas que usava na terra na época de sua transição. É
razoável que isso aconteça porque tal vestimenta é costumeira, especialmente
quando a pessoa não tem previsão
das condições do mundo
espiritual. E assim permanece até que o queira. Seus amigos lhe dirão do seu
verdadeiro estado de ser, e ela poderá assim mudar a roupa, se o desejar.
Muitos se alegram de o fazer, visto que o antigo estilo usado na terra lhes
parece triste e sem côr nestes risonhos reinos. Não demorei muito a pôr de lado
o meu velho hábito religioso, visto que o preto é sombrio demais para esta
galáxia de cores.
Ás vestimentas espirituais variam tanto quanto variam
os reinos. Parece sempre haver alguma sutil diferença entre as roupas de um
espírito e de outro, tanto na côr como na forma, de maneira que há uma
variedade infinita tanto na côr como na forma.
Todas as roupas espirituais
são compridas quase até os pés. São suficientemente largas, de modo que caem em
pregas graciosas e estas pregas é que oferecem os mais lindos matizes de cores
e luzes. Seria impossível dar uma idéia do que são.
Vêem-se muitas pessoas usando uma faixa ou cinto à
cintura, às vezes de fazenda, outras de rendas de ouro ou prata. Em qualquer
dos casos, constituem recompensas por serviços prestados. São geralmente
adornadas com as mais belas pedras preciosas, de vários formatos, e montadas em
engastes maravilhosos. Os entes superiores são vistos usando os mais magníficos
diademas, tão brilhantes como os cintos. Aqueles que pertencem a graus
inferiores podem usar tal adorno mas de formas menos imponentes.
Há uma grande riqueza de
sabedoria espiritual atrás de cada adorno, mas um fato precisa ficar bem claro:
tais enfeites precisam ser conseguidos. Os prêmios são dados apenas por
mérito.
Podemos usar o que quisermos nos pés, e a maioria prefere
usar algo que os proteja e geralmente é um sapato leve ou sandália. Já vi
inúmeras pessoas que preferem andar descalças. Isso não provoca comentários
porque é natural e comum.
O material que usamos nas
roupas não é transparente como alguns julgam. É bem compacto. E a razão pela
qual não é transparente é que nossa roupa possui o mesmo grau vibracional que o
possuidor. Quanto mais alto progredimos maior se torna esse grau, e,
conseqüentemente, os moradores dessas elevadas esferas adquirem uma incrível
fragilidade no espírito e nas roupas. Essa transparência é mais visível a nós
do que a eles, isto é, externamente visível, pela mesma razão que uma luz
pequena parecerá mais luminosa em virtude da escuridão reinante em volta. Quando se
aumenta a luz mil vezes, — como é o caso dos planos superiores — o contraste é
incomensuravelmente maior.
Raramente usamos cobertura
para a cabeça. Não recordo ter visto nenhum por aqui pois não necessitamos
proteção contra os elementos.
Creio já terdes concluído a
esta altura que ser uma pessoa espiritual pode ser algo bem agradável.
Em minhas andanças pelos reinos
da luz ainda não encontrei um único indivíduo que quisesse trocar esta bela
vida por aquela velha da terra.
Experto crede!
X. A Esfera das Crianças
Uma das inúmeras perguntas
que fiz a Edwin logo após minha chegada referia-se ao destino dado às crianças
que passavam a espírito.
Há um período de nossa vida
terrena a que estamos acostumados a chamar Flor da idade. Há uma também aqui, e é na
direção desse período que todas as almas ou voltam ou se adiantam, conforme a
idade em que tem lugar seu passamento. Quanto tempo leva, depende inteiramente
delas, visto que é apenas uma questão de progresso espiritual e
desenvolvimento, apesar, de que para os jovens este período
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seja geralmente mais curto. Aqueles que passam a espírito
depois da flor da idade, sejam eles idosos ou de meia-idade,
tornar-se-ão
mais jovens na aparência apesar de amadurecerem
espiritualmente. Não se deve concluir com isso que nós todos
chegamos a um nível estático de vulgar uniformidade. Externamente parecemos jovens: perdemos aqueles sinais que a
passagem dos anos causa e que tanto nos perturbam quando
mortais. Mas nossas mentes tornam-se mais velhas ao ganharmos conhecimento e sabedoria e maior espiritualidade, e essas qualidades da mente são manifestas a todos com quem
entramos em contato.
Quando visitamos o templo da cidade, e, à distância,
vimos o radiante visitante que viéramos honrar, êle apresentava o aspecto perfeito e eterno da juventude. No entanto
o grau de sabedoria e espiritualidade que difundia e que
podíamos sentir com nossas mentes, era avassaladoramente
grande. Acontece o mesmo, em vários graus, com aqueles
que vêm dos mais altos planos para nos visitar. Se, portanto,
verificamos
este rejuvenescimento de pessoas adultas, o que se dará com as almas dos que morreram crianças ou dos que
morreram ao nascer?
A resposta é que crescem como o fariam na terra. Mas às crianças daqui — de todas as idades — é dado um tratamento e cuidado que nunca seria possível na terra.
A criança cuja mente ainda não está completamente
formada e não está contaminada pelos contatos terrenos, ao
passar a espírito acha-se num reino de extrema beleza, presidido por almas igualmente belas. O reino destas crianças
chama-se o berçário do céu e quem quer que tenha a
fortuna de visitá-lo sabe que não há termo mais adequado.
E foi em resposta à minha pergunta que Edwin propôs levar
Rute e eu para o conhecermos.
Encaminhamo-nos para o limite entre os reinos superiores
e o nosso, e voltamo-nos na direção da casa de Edwin. Já
podíamos sentir a atmosfera rarefeita, embora não o bastante
para nos causar desconforto. Notei que essa atmosfera tinha
bem mais côr do que as
profundezas do reino. Era como se um grande número de focos luminosos se
encontrassem e espalhassem seus largos raios por toda a paisagem. Esses raios
de luz estavam sempre em movimento, entrelaçando-se e produzindo as mais
delicadas misturas de cores com sucessivos arco-íris. Eram extremamente
repousantes e também cheios de vitalidade, e, como pareceu a Rute e a mim, de
alegria e despreocupação. Tristeza e infelicidade, sentíamos ser inteiramente
impossível aqui.
O campo era mais verde, as
árvores não tão altas mas bem formadas como todas as outras aqui.
Depois de algum tempo a
atmosfera clareou e, sem os raios coloridos já era mais semelhante à nossa. Mas
havia uma estranha e sutil diferença que intrigava o visitante na sua primeira
visita, e derivava, como nos disse Edwin, da espiritualidade das crianças que
aqui vivem. Algo como isso se encontra quando se tem o privilégio de viajar por
reinos mais elevados. É quase como se houvesse maior grau de beleza no ar, à
parte o notável efeito de elevação da mente.
Vimos vários esplêndidos
edifícios ao caminharmos pela grama macia. Não eram muito altos mas largos e
extensos, e todos agradàvelmente situados entre jardins floridos.
Flores, é desnecessário
dizer, cresciam em abundância nos canteiros artísticos e em grandes
agrupamentos nas encostas e sob as árvores. Já expliquei, a respeito das
flores, que suas semelhantes da terra crescem por si mesmas, e que as próprias
do mundo do espírito acham-se separadas das primeiras. Dissemos que não há
significação especial nesta segregação, mas que ela existe para mostrar simplesmente
a distinção entre duas classes de flores: a espiritual e a terrena. Tão belas
quanto na terra são as. flores que aqui crescem, e não pode haver comparação
com as que pertencem ao espírito. E aqui ainda estamos limitados pela
experiência terrena ao descrevermos suas belezas. Não são de cores mais ricas
do que as da terra, mas a conformação e folhagem são de beleza sem paralelo,
pois não conhecemos nenhum exemplo
na terra que lhe possa servir
de comparação. Mas não se deve supor que essas magníficas flores sejam de
estufas. Longe disso. A superabundância delas, aliada à força e variedade de
seus perfumes imediatamente afastaria a idéia de raridade. Não houve nenhum
caso em que o cultivo da beleza de uma flor prejudicasse o seu perfume. Todas
possuem a qualidade comum a todas as coisas que crescem aqui, ou seja, a de
verter força energética não só através de seu aroma, mas também através do
contato pessoal. Já experimentei segurar uma flor com as mãos em forma de
concha — Rute assim me instruiu — e senti uma corrente de força vital fluir
para os meus braços.
Podiam-se também ver
deliciosos reservatórios de água e lagoas, em cuja superfície floresciam as
mais belas flores aquáticas. Noutra direção viam-se uma série de lagos maiores,
com inúmeros barquinhos vogando serenamente.
Os prédios leiam construídos de uma substância
semelhante ao alabastro, e de tonalidades as mais delicadas; o estilo da
arquitetura lembrava os de nossa própria esfera.
Mas o que nos provocou maior
surpresa foi o ver, confundidas no meio dos bosques, as mais engraçadas
casinhas de campo, tais como costumamos ver em livros de fadas. Havia
minúsculas casas de vigas recurvas, telhados vermelhos e janelas de minúsculos
vidros, e cada uma com o seu encantador jardim ao redor.
Pode-se pensar que o mundo
espiritual tenha se inspirado na terra, nessas criações fantasistas para a
alegria das crianças, mas não foi o caso. Na verdade, toda essa concepção de
casas em miniatura emanou do próprio mundo espiritual. Qualquer artista que
tenha recebido nossa impressão original, perdeu-a na terra através dos anos.
Esse artista é conhecido aqui, onde vai continuar sua obra na esfera das
crianças.
Essas casinhas eram grandes o
bastante para permitir a entrada de um adulto sem bater a cabeça. Para as
crianças preciam ser de tamanho exato, e elas não tinham a impressão de se
perderem lá dentro. Por essa mesma razão é que todos
os grandes edifícios aqui não são muito altos. Não os cons-
truindo muito altos nem de salas grandes demais, estavam
de acordo com seus pequenos habitantes, que assim não se
sentiam diminuídos por eles. .1
Grande número de crianças vivem nessas minúsculas
habitações,
cada uma presidida por uma criança mais velha,
perfeitamente capaz de enfrentar qualquer situação que surja
entre os habitantes.
Ao andarmos víamos grupos de crianças felizes, algumas
jogando, outras sentadas na grama enquanto uma professora
lia para elas. Outras ouviam atentamente as explicações
sobre flores numa aula de botânica. Mas era uma botânica
muito diferente da da terra, no que se refere às flores essencialmente espirituais.
Edwin levou-nos a uma das professoras e explicou-lhe a razão de nossa visita. Imediatamente nos deram as boas--vindas e a professora teve a bondade de responder a algumas
perguntas.
Seu entusiasmo pelo trabalho aumentava o prazer
de nos contar o que desejássemos. Ela estava aqui havia um bom número de anos. Como tivera filhos na terra e como se interessasse muito por crianças resolveu encarregar-se
desse trabalho.
Nem era necessário dizer quão admiravelmente ela se
desincumbia
desta tarefa. Irradiando encanto e confiança,
bondade e alegria, ela atraía todas as crianças, compreendia
a mente infantil, já que na verdade era quase uma criança
grande.
Possuía amplo conhecimento das mais interessantes coisas,
especialmente das que atraem as crianças; tinha uma fonte
inesgotável
de histórias, e, o que é mais importante, mostrava-se
a pessoa mais feliz que já vi até hoje.
Nesta esfera, nos disseram, há crianças de todas as idades,
desde o bebê, cuja existência na terra não foi além de alguns
minutos ou que nem chegou a ter existência própria, ao jovem de dezesseis ou dezessete anos.
Acontece freqüentemente que
as crianças, ao crescerem, permanecem na mesma esfera e elas mesmas se tornam
professores por algum tempo, ou até que seu trabalho as leve a outros lugares.
E os pais? Foram eles alguma
vez os professores de seus próprios filhos? Raramente ou nunca, segundo nos
disse nosso informante. É uma prática que raras vezes dá certo, visto que o pai
estaria inclinado a favorecer o seu próprio filho e poderia haver embaraços. Os
mestres são sempre almas de grande experiência, e não há muitos pais na terra
que seriam capazes de orientar a educação do espírito infantil imediatamente
após o passamento.
Se os professores foram pais
ou não no plano terrestre, eles aqui têm de submeter-se a um extenso curso
antes de se julgarem aptos a preencher o cargo de mestre de crianças, para
manter os rígidos padrões de trabalho.
O trabalho não é árduo, a
julgar pelo padrão terreno, mas exige uma multiplicidade de atributos
especiais.
O crescimento mental e físico
da criança no mundo espiritual é mais rápido do que no mundo terrestre. Vós
vos lembrais da retenção da memória de que já vos falei? Ela começa assim que a
mente seja capaz de aprender algo, e isso acontece bem cedo. A aparente
precocidade é perfeitamente natural, porque a mente jovem absorve conhecimentos
facilmente. O temperamento é cuidadosamente estudado pelas linhas espirituais e
as crianças são treinadas primeiro a respeito de assuntos espirituais e depois
é que são instruídas acerca do mundo.
O governante do reino age, em
geral, in
loco parentis, e todas as crianças, na verdade, o consideram como pai. O ensino das
crianças é muito vasto. Elas aprendem a ler, mas muitas das disciplinas do curriculum terreno são omitidas como
supérfluas.
Ao crescer, as crianças podem
escolher sozinhas o tipo de trabalho que prefiram e, especializando-se,
tornam-se per
feitamente aptas para
desenvolver a atividade escolhida. Algumas, por exemplo, preferem voltar à
terra temporariamente para trabalhar no exercício das comunicações e se tornam
altamente eficientes. Tais visitas têm a vantagem de aumentar suas
experiências, aprofundando sua compreensão das atribuições e prazeres dos
seres encarnados.
Surge sempre esta pergunta na
mente de pessoas da terra, com referência a crianças que já morreram:
"Poderemos nós reconhecer nossos filhos quando chegarmos ao mundo
espiritual?', A resposta é um enfático sim, fora de qualquer dúvida. —
"Mas como? se eles cresceram no mundo espiritual e longe de nossas vistas?"
Para responder, é necessário
conhecer um pouco mais a respeito de nós mesmos.
Deveis saber que, quando
dormimos, o espírito se retira temporariamente do corpo físico, se bem que
permaneça ligado a êle por um fio magnético. Esta ligação é o fio da vida
entre o espírito e o corpo. O espírito, assim liberto, ou permanece nas
vizinhanças do corpo ou gravitará para a esfera que seus atos terrenos lhe
terão dado direito de freqüentar. O espírito passa, portanto, parte da sua
existência em terras espirituais. E é nestas visitas que encontramos parentes e
amigos que morreram antes de nós; é também nessas visitas que os pais podem
encontrar seus filhos, e assim observar seu crescimento. Na maioria dos casos
os pais não podem penetrar na esfera dos próprios filhos, mas há inúmeros
lugares onde tais encontros podem ocorrer. Lembrando o que eu disse sobre a
retenção da memória subconsciente, vereis que, em tais casos não pode haver
problema para reconhecer um filho, porque o pai viu o filho e observou seu
crescimento da mesma maneira que o teria feito se a criança permanecesse na
terra.
Deve haver, é claro,
suficientes laços afetivos entre os dois, do contrário esta lei não funciona.
Onde eles não existem, a conclusão é óbvia. O laço de afeição e interesse deve
também existir entre todas as relações humanas no
mundo espiritual, seja entre
marido e mulher, pai e filho ou entre amigos.
Sem êle é problemático que as pessoas se encontrem, a não ser ocasional
e fortuitamente.
O reino das crianças é uma
cidade em si, contendo tudo que grandes mentes, inspiradas pela Mente Suprema,
podem fornecer para o bem-estar, conforto, educação, prazer e felicidade de
seus jovens habitantes. Os templos do saber estão equipados com todo o
necessário para a difusão do saber, daqueles que não o possuem ainda no menor
grau, e que portanto precisam começar pelo começo. Isto se refere a crianças
que morreram muito cedo. Crianças que deixam o mundo nos seus primeiros anos
continuarão seus estudos onde os largaram, eliminando todos os que não lhes
serão de utilidade futura, e acrescentando os espiritualmente necessários.
Assim que alcançam idade adequada podem escolher seu futuro e estudar de acordo
com suas preferências. E elas têm, como era de esperar, as mesmas
oportunidades, os mesmos direitos à herança espiritual, como os temos todos,
velhos ou novos.
E todos fixamos o mesmo alvo
— a felicidade perfeita e perpétua.
Continua
no próximo Bloco - Ocupações
Continua
no próximo Bloco
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