XI. Ocupações
O mundo espiritual é não só
uma terra de oportunidades idênticas para todos, mas essas oportunidades são de
uma escala tão vasta que nenhuma pessoa encarnada pode ter a menor idéia de sua
magnitude. Oportunidades para quê? — perguntareis. Para o bom, o útil e o
interessante trabalho. Espero que, a esta altura, já tenha feito notar que o
mundo espiritual não é uma terra de ociosidade, um lugar onde seus habitantes
passam a existência numa atmosfera de super-êxtase religioso, oferecendo
formalmente louvores
e orações ao
Grande Trono, numa corrente ininterrupta. Há uma corrente, com certeza, mas de
maneira muito diferente. Surge dos corações de todos que estão felizes e gratos
por se acharem aqui.
Quero tentar dar uma leve idéia da imensa variedade de
ocupações
a que podemos nos dedicar aqui.
Vossos pensamentos se voltarão imediatamente para as
muitas modalidades de ocupações do mundo, mas atrás delas
há sempre a necessidade urgente de se ganhar a vida, de
prover o corpo físico com comida e bebida, roupa e habi-
tação de alguma qualidade. Bem, já sabeis que essas consi-
derações não existem entre nós, visto que alimento e bebida
não são necessários, assim como roupas e habitações. Con-
forme foram nossas vidas na terra, assim serão nossas roupas
e domicílios quando aqui chegamos. Não temos, pois, neces-
sidade física de trabalho, mas sim, mental, e por causa disso
o trabalho é um prazer aqui.
Imaginemo-nos num mundo onde ninguém trabalha para
viver, mas onde todos trabalham pela pura alegria de fazer
algo útil aos outros. Imaginai isso e começareis a compreender
algo da nossa vida.
Muitas ocupações não têm razão de ser nestes reinos.
Embora úteis e necessários, pertencem a um período
essencialmente terreno da vida. O que acontece então às
pessoas que as praticam? Descobrirão imediatamente que
deixaram suas vocações terrenas para trás porque a necessidade
de subsistência física não mais existe, e em lugar disso tais
pessoas sentem-se gloriosamente livres para se ocuparem em algum novo trabalho. Não precisam mais indagar do que são capazes: logo acharão algo que lhes atrairá a atenção e
interesse.
E não demorarão muito a se unir a seus companheiros para aprenderem alguma ocupação nova.
Até aqui só me referi ao trabalho abstratamente. Sejamos
mais específicos, considerando alguns dos seus aspectos físicos,
e para isso vamos à cidade.
Em caminho atravessamos belíssimos jardins que foram
algum tempo desenhados e criados. Aqui, digamos, está o primeiro meio de atividade. Milhões de pessoas na terra
amam os jardins e o seu trato. Que poderia haver de melhor
do que continuar aqui com seu trabalho, fora das exigências
físicas, livres e despreocupadas, e com os inesgotáveis recursos do mundo espiritual às suas ordens? Podem parar
quando bem entendem e retomar o trabalho quando desejam,
visto que não há ninguém para impor-lhes sua vontade. E qual é o resultado? Felicidade para si próprios, porque ao
criarem uma bela obra de arte horticultura eles aumentaram a beleza de um lugar já belíssimo, e assim trouxeram felicidade
aos seus semelhantes. Assim continuam sua tarefa, alterando,
reformando,
planejando, embelezando, construindo e sempre
adquirindo
mais e mais perícia. Assim continuam até que
desejem mudar de trabalho, ou até que seu progresso espiritual os leve para novos campos.
Agora vejamos o templo da música, e que atividade podemos achar lá. Alguém, é claro, tinha que planejar, e outros tinham que construir o templo, propriamente. Já falei a respeito da construção do anexo da biblioteca. Em todas as
construções
grandes o método seguido é o mesmo, mas aqui êle tem de ser aprendido, e a obra de arquitetos e construtores,
com seus vários assistentes técnicos, está entre uma das mais
importantes
do mundo espiritual. Toda espécie de atividade
está aberta a qualquer um que goste dela. Mas é surpreendente ver quão rapidamente se ganha eficiência pelo estímulo
da vontade. A vontade de fazer é transformada em habilidade de fazer em muito pouco tempo.
Na seção de música temos bibliotecas onde os alunos
se ocupam em seus estudos. A maioria está aprendendo
a ser musicista, isto é, aprendendo a tocar um ou mais
instrumentos. E alguém tem que fornecer-lhe os necessários
instrumentos, por isso os fabricantes de instrumentos da terra se acham à vontade em sua arte, se desejam continuar a
exercê-la.
Bem, agora podemos observar que uma existência
inteira passada na terra a exercer uma especialidade seria
mais do que suficiente para a maioria, e que retomar essa
mesma atividade, com sua interminável rotina seria a última
coisa que se desejaria. Mas lembrai-vos do que já disse
acerca da liberdade nestas paragens, e o fato de que ninguém
é obrigado, nem por força das circunstâncias, nem por mera
necessidade de subsistência, a fazer qualquer trabalho
no mundo espiritual. Lembrai-vos de que todo trabalho é voluntário, por
simples amor e orgulho de criar algo, e pelo desejo de ser útil a outros habitantes
do reino.
Incidentalmente, devo
mencionar que não é imperativo adquirir um instrumento musical por intermédio
do templo da música. Qualquer pessoa o pode fabricar para uma outra que o
necessite. Em muitas casas há — e não como mero ornamento — um belo piano
construído por mãos destras que aprenderam os métodos espirituais da criação.
Essas coisas não se podem criar, são recompensas espirituais. Seria inútil
tentar possuir aquilo a que não temos direito.
Antes de prosseguirmos,
olhemos a biblioteca. Aqui há partituras musicais aos milhares, juntamente com
vários solos para instrumentistas. A maioria das grandes orquestras obtêm suas
músicas do templo da música. Têm liberdade de pedi-las emprestado sempre que o
desejar, mas alguém tem que duplicar as partes musicais. E essa é outra
importante e produtiva ocupação. Os bibliotecários que cuidam das músicas, e
que atendem às necessidades do público, preenchem outra tarefa útil. E assim,
os pormenores podem ser multiplicados, indo da pessoa que apenas ama a música
àquelas que são instrumentistas e regentes.
Na seção de tecidos, dá-se o
mesmo. A qualquer momento que desejar, posso juntar-me aos estudantes que
aprendem a tecer os mais encantadores tecidos. Acontece, porém, que meu
interesse está noutro setor, e minhas visitas aqui são puramente de recreio.
Rute entretanto, passa certo tempo estudando e já é perita em tapeçaria. É para
ela, em parte estudo e ocupação, em parte, recreação. Já teceu algumas belas
tapeçarias, das quais Edwin e eu possuímos duas belíssimas, em nossas paredes.
Pode-se obter qualquer material que se deseja, ou, como no caso da música,
pode-se pedir a algum artesão para fazer o que se deseja. Nunca se ouve uma
recusa, nem se tem de esperar longo tempo para receber o que se quer.
Bem, dei apenas uns dois ou
três exemplos do que é pos-sível a uma pessoa fazer aqui. Há outros milhares,
que formam um grande campo de atividades. Imaginai os médicos que aqui
continuam sua obra. Não que necessitemos deles como tais, mas porque aqui podem
trabalhar com colegas que investigam as causas das doenças e moléstias na
terra, e podem ajudar a aliviá-las. Muito médico espiritual já guiou a mão de
um cirurgião da terra enquanto este realiza uma operação. O médico terreno
provavelmente nem se dá conta do fato, e ridicularizaria qualquer insinuação de
que está recebendo auxilio de uma fonte desconhecida. O médico espiritual
contenta-se em auxiliar, sem reconhecimento algum do auxiliado. É o resultado
final que lhe interessa e não o crédito. Em tais casos, o médico da terra faz
interessantes descobertas, ao chegar finalmente ao mundo espiritual.
Os cientistas também
continuam suas pesquisas ao chegar aqui. Qualquer que seja o ramo de ciência
que lhes interesse, aqui acharão mais do que o suficiente para ocupar sua
atenção por bastante tempo. Assim também, o engenheiro e muitos outros. Na
realidade, seria impossível, ou pelo menos um tanto enfadonho talvez, percorrer
a longa lista de ocupações já tão conhecidas da terra. Mas por ora podeis ter
uma idéia do que pode oferecer o mundo do espírito. Tudo o que temos em nossas
galerias, em nossas casas, em nossos edifícios e jardins, tem de ser feito, ser
modelado, ou criado — e isso exige alguém que o faça. A necessidade é constante
e o suprimento constante, e será sempre assim.
Há, porém, outra seção da
indústria vitalmente necessária e inerente ao mundo espiritual.
A porcentagem de pessoas que
chegam aqui sem conhecimento de sua nova vida e do mundo espiritual é baixa,
deploràvelmente baixa. Todas essas inúmeras almas precisam ser ajudadas e sua
perplexidade, cuidada. Esse é o tipo de trabalho em que Edwin , Rute e eu
estamos ocupados e que atrai muitos ministros de Deus.
Nas mansões de repouso há
enfermeiras e médicos para tratar daqueles cuja última enfermidade na terra foi
longa e dolorosa, ou cujo passamento foi violento e repentino. Há muitas dessas
casas que são um monumento perene de vergonha para o mundo. É certo que a morte
possa ser repentina e violenta — isso é inevitável no presente — mas é uma vergonha
para a terra que tantas almas aqui cheguem inteiramente ignorantes do que lhes
virá no após.
Esses
lugares de repouso se multiplicaram consideravelmente desde que aqui cheguei;
em conseqüência disso houve necessidade de mais enfermeiras e médicos.
Como tal trabalho pertence
exclusivamente ao mundo espiritual, temos escolas especiais para aqueles que,
gostando dessa atividade, desejam se aperfeiçoar. Ali, eles aprenderão muito do
que se refere ao tratamento científico do corpo em si e da mente espiritual.
Adquirem um conhecimento geral dos caminhos da vida espiritual, ao mesmo tempo
que têm de transmiti-lo a pessoas que geralmente nada sabem do seu novo estado.
Eles terão que aprender os fatos da inter-comunicação entre o nosso mundo e o
vosso. É surpreendente ver quantas pessoas que aqui chegam querem voltar
correndo, para contar aos que ficaram, a grande descoberta de estarem em outro
mundo.
Muitos requerem um longo
repouso após a morte. Essas almas, cuja atenção está sempre dividida por igual
entre a terra e o espírito, exigem uma alta proporção de saber espiritual,
assim como tato e discrição por parte das enfermeiras e médicos.
Ao mencionar uma ocupação não
quero prejudicar outra, nem fazer crer que os que acabei de mencionar tenham
precedência sobre os outros. Escolhi uma ou duas por terem a aparência tão material e para sublinhar o que já
tentei demonstrar repetidamente — que vivemos num mundo prático onde nos ocupamos em tarefas
úteis e individuais, e não passamos o tempo todo num êxtase de religiosidade,
perpetua-mente imersos em meditação.
Mas que dizer das pessoas que
nunca fizeram algo útil durante a vida? Tudo que posso dizer é que tal pessoa
não
chegará até estas paragens até ter merecido a entrada
por meio de trabalho.
Fazer relação de todas as
atividades seria longo demais e exaustivo. Na verdade, fico com a mente tolhida
só em pensar em contar tal número, por causa da minha incapacidade de fazer
justiça a todas. Nas esferas científicas de puro labor, milhares e milhares de
pessoas dedicam-se, muito felizes, ou às provas dos segredos da terra, ou às
investigações dos do mundo espiritual.
Ciência e engenharia sendo
co-aliadas, têm feito longínquas descobertas e aperfeiçoado inventos. Esses
não são para nós, mas para vós — quando chegar o tempo, e isso ainda não é
agora. A terra tem dado pobres evidências do que se tem feito por ela no mundo
espiritual. O homem tem usado sua vontade livremente, mas aplica-a na direção
errada, o que por fim acarreta a sua destruição. A mente do homem está apenas
na infância, e uma criança torna-se perigosa se tem livre uso do que a pode
destruir. Daí ser mantido oculto muito que lhe pode ser prejudicial, até o dia
em que alcançar maior desenvolvimento. O dia virá certamente, e uma avalanche
de novas invenções se despencará sobre o vosso mundo.
Nesse meio tempo, o trabalho
constituído de pesquisas, investigações, descobertas e invenções continua: é um
trabalho que absorve muita gente. Nada quebra a ordem rotineira das nossas
atividades. E enquanto elas continuam, podemos nos afastar um pouco, para
descançar ou para seguir outra linha de trabalho. Não temos disputas, nem
transtornos domésticos, nem rivalidades para produzir insatisfação ou
desagrado. O mais humilde de nós sente que seu trabalho significa algo, por mais
modesto que pareça ao lado de outros aparentemente mais importantes. No mundo
espiritual, trabalhar é ser profundamente feliz pelas inúmeras razões, que já
vos citei.
Não há ninguém aqui que não
confirme minhas palavras com todo o coração e sem reservas!
XII. Gente Famosa
Deixar o mundo e fixar
residência permanente no mundo espiritual não é tão grande transformação como
muitas pessoas poderiam imaginar. Ê verdade que para muitos, todos os laços
terrenos são cortados, mas quando passamos para o mundo espiritual
encontramos novamente aqueles parentes e amigos que morreram antes de nós.
Nesse ponto iniciamos um novo capítulo em nossa existência, completamente à
parte, numa vida nova, que começa com a entrada no mundo do espírito.
Os encontros com parentes e
amigos são algo que precisa ser experimentado a fim de que se possa apreender o
completo significado e alegria da reunião. Tais encontros tomam lugar onde há
simpatia mútua e afeto. Não consideraremos outra coisa por ora. Esses encontros
continuarão por algum tempo depois da chegada do novo morador. É natural que na
novidade, tanto do ambiente como das condições, se perca grande tempo na troca
de opiniões, e em ouvir tudo a respeito do que se passou na vida espiritual
daqueles que nos precederam na morte. Eventualmente chegará a hora em que o
recém--chegado começará a considerar sobre o que fazer em sua vida espiritual.
Bem, poder-se-ia dizer que na
terra a maioria de nós possui uma dupla existência — a vida do lar e a dos
negócios ou ocupações. Nesta, associamo-nos talvez com um grupo inteiramente
diferente. É natural, portanto, que aqui também aconteça isso. O cientista, por
exemplo, encontrará primeiro suas ligações familiares. Quando se tocar no
assunto de trabalho êle se achará entre seus velhos colegas que aqui o
precederam, e logo se verá em casa e se sentirá encantado ao saber das
pesquisas científicas que se exibem na sua frente. O mesmo se dá com o pintor,
o músico, o escritor, o engenheiro, o médico, o jardineiro, o pedreiro, ou o
homem que tecia tapetes para uma fábrica, para mencionar apenas uma fração das
inúmeras ocupações, tanto da terra como do espírito. Ver--se-á então que a
pergunta que intriga muita gente — "Que
fim tiveram as pessoas
famosas?" — está praticamente respondida.
A fama no mundo espiritual é
enormemente diversa da do mundo terreno. A celebridade espiritual se consegue
unicamente de uma maneira — em serviço a outros. Parece até simples demais,
mas é assim mesmo e nada o pode alterar. Se os personagens famosos residirão ou
não nos reinos de luz imediatamente após sua morte, depende só deles. A lei se
aplica a todos, sem levar em conta a posição terrena.
Uma certa curiosidade
referente ao destino de pessoas bem conhecidas na terra, é natural, pois é
bastante o mero fato de terem sido famosas. Mas nada desperta mais curiosidade
do que as celebridades da História. Onde estão aqueles mestres da sabedoria,
aqueles nomes tão familiares dos livros de História? Devem estar algures.
Grande número deles se encontra nos reinos escuros, onde estão já há séculos e
onde provavelmente continuarão por outros tantos. Outros estão nos reinos de
luz e beleza porque suas nobres vidas sobre a terra mereceram esse prêmio. Mas
há muitos e muitos que se acharão dentro daqueles reinos intermediários que já
tentei descrever.
Darei um exemplo para o qual
reuni alguns pormenores. Refere-se ao passamento de um personagem real. Tomei
este exemplo porque, apesar de extremo, demonstra mais claramente do que
qualquer outro os princípios que governam a vida em geral.
Neste caso em particular já
sabíamos de antemão que esse personagem estava para chegar. Seus compatriotas
naturalmente estavam interessados no que ia acontecer. A própria família, como
todas daqui, estava aguardando sua chegada. Uma curta enfermidade ocasionou seu
passamento, e assim que este se deu, êle foi trazido para a casa de sua mãe,
que já tinha tudo pronto. A casa nada tem de excepcional, é igual a tantas
outras daqui. A notícia de que ele ia chegar se espalhou. Não houve júbilo universal como se daria na
terra, mas sim uma felicidade como a que se sente à chegada
de qualquer ente querido. E ali êle permaneceu por
algum tempo, gozando a liberdade de ação e simplicidade de vida que lhe fora
negada na terra. Inúmeros conhecidos já vieram indagar dele, mas não o viram
ainda. Houve uma enorme reunião da família e assim que se achou suficientemente
repousado, saiu a ver as maravilhas da nova vida.
Reteve em grande parte sua
antiga e costumeira aparência pessoal. Os sinais de doença e cansaço mental e
corporal tinham desaparecido e êle parecia muitos anos mais jovem. Quando
passeava foi reconhecido pelo que havia sido e respeitaram-no, mas foi
ainda mais honrado e homenageado pelo que era agora.
Direis agora que assim que
êle encontrou seus compatriotas estes poderiam talvez ter manifestado algum
embaraço e uma vaga desconfiança, tal como aconteceria no plano terrestre. Mas
durante o período de recuperação muito lhe foi explicado a respeito das
condições de vida, seus métodos, suas leis e costumes agradáveis. Tais
revelações o encheram de felicidade, pois sabia que tão logo deixasse o retiro
da casa de sua mãe, êle o poderia fazer com a liberdade só achada nas paragens
espirituais, onde os habitantes o considerariam apenas um homem simples, desejoso
de se reunir a seus irmãos de felicidade. Sabia que seria tratado como igual.
Quando, portanto, em companhia de membros da família, andou por estes reinos
numa viagem de descoberta, não sentiu em si nem nos outros qualquer sentimento
de desconforto mental. Ninguém se referia à sua posição terrena a menos que êle
próprio o fizesse, e assim não havia suspeita de propósitos inquisitoriais, ou
curiosidade ignorante.
Podereis pensar que alguém
que já ocupou tão elevada posição na terra provocaria nas mentes de outrem
idéias de pena, diante de tamanha mudança de posição. Mas tais sentimentos não
são desejados nem permitidos nestes reinos, pela simples razão de que não há
ocasião para tal. Deixamos para trás nossa importância terrena e não nos
referimos a ela senão para mostrar, pelas nossas próprias experiências, aos
ainda encarnados, o que se deve evitar. Não revivemos nossas memórias com o
intuito de autoglorificação ou para impressionar os ouvintes. Eles, na
realidade, não se impressionariam e reconhecemos que é apenas o valor
espiritual que vale. Perspectivas e pontos de vista se alteram completamente ao
chegar aqui. Por mais poderosos que fôssemos na terra, é o valor espiritual que
nos dá o direito a um lugar no mundo espiritual, e são as ações de nossa vida,
sem considerar a posição social, que nos darão nossa futura colocação. A
posição é esquecida, mas ações e pensamentos são testemunhas por nós ou contra
nós, e assim tornamo-nos nossos próprios juizes.
Não é difícil ver que, quando
aquele personagem real chegou ao mundo espiritual, como outros de sua família
antes dele, não teve que enfrentar dificuldades ou situações embaraçosas. Pelo
contrário, toda situação parecia simplificar-se e dar a sua própria solução.
Bem, o que se dá com este
personagem aplica-se igualmente a todos os que foram famosos na terra. Mas
como reage diante disso um cientista famoso, digamos, ou um compositor, ou
pintor? São nomes famosos e quando temos ocasião de nos referirmos a eles
usamos os nomes pelos quais eram conhecidos. Aqui, no mundo espiritual,
preferem não ser chamados de mestres ou gênios. Seus nomes, por mais famosos
que tenham sido, não querem dizer mais nada, e eles severamente repudiam tudo o
que, mesmo remotamente, se aproxime da adoração de heróis que a terra costumava
lhes conceder. São apenas um de nós, e
como tal são tratados.
A lei de causa e efeito
sempre existiu no mundo do espírito, e a ela estão sujeitas, tanto as almas das
pessoas que viveram obscuramente na terra, quanto as daquelas que foram mundialmente
famosas. Nestes reinos, qualquer um está sujeito, cedo ou tarde, a encontrar
pessoas cujos nomes são famosos na terra. Essa gente célebre, porém, não tem
nenhum apego ao mundo terreno. Deixaram-no para trás, e muitos dos que passaram
para cá há milhares de anos estão felizes por não terem ocasião de relembrar
sua vida na terra. Sofreram tão violenta transição que agora ficam satisfeitos
em considerar apenas o presente, e deixaram a marca do passado fora da memória.
As pessoas da terra poderão
achar estranho caminhar por aqui, misturando-se a pessoas que viveram há
centenas de anos atrás. É um encontro do passado com o presente eterno; mas
para nós não é estranho, apenas para os recém--chegados. A discrição é algo que
aprendemos cedo a usar, e está em nós nunca bisbilhotar os fatos e
circunstâncias da vida de outras pessoas. Isso não impede que se discuta a
nossa vida anterior, mas só se a iniciativa partir da pessoa que se tem em vista. Se ela quiser
falar a alguém sobre sua vida terrena sempre encontrará ouvidos pacientes e
compreensivos.
Estais vendo, pois, que nossa
vida terrena é estritamente nossa. A discrição que temos é universal —
demonstramo-la e recebemo-la. E qualquer que tenha sido a nossa posição formal
na terra, nestes reinos somos unidos espiritualmente, intelectualmente,
temperamentalmente, e nessas características humanas, tanto em nossos gostos
como desgostos. Somos um só; atingimos o mesmo estado e o mesmo plano de
existência. Cada novo rosto que entra nestes reinos recebe a mesma acolhida
cordial, sem qualquer referência ao que era na terra.
Poder-se-á encontrar muita
gente famosa, em toda parte, e entregue a toda espécie de ocupação. Todos são
acessíveis sem formalidades de qualquer espécie.
Não há necessidade de
apresentações a homens e mulheres que foram famosos. Seus dons estão à
disposição de todos. Os grandes, que atingiram essa grandeza por meio do gênio,
se consideram apenas os humildes seres de uma vasta organização Todos lutam
pelo mesmo propósito, isto é, progresso e desenvolvimento espiritual. Ficam
reconhecidos por qualquer ajuda em direção a esse objetivo e sentem-se felizes
por dá-la o máximo possível.
As riquezas e honrarias da
terra parecem vulgares e baratas em comparação com as riquezas e honras que
estão prontas a serem ganhas aqui. E estão ao inteiro alcance de cada alma no instante em que aqui chega. São seu direito de nascença,
de que ninguém a pode privar. A grandeza terrena pode
parecer muito tangível quando estamos no meio dela. Mas
descobrimos
ao morrer como a grandeza espiritual é concreta
e permanente. Nossa proeminência terrena desvanece-se ao
chegarmos,
e ficamos sendo o que valemos, e não o que
fomos.
Vários personagens famosos me têm falado do seu despertar no mundo espiritual, e me disseram do choque da
revelação
de verem-se pela primeira vez como realmente eram.
Mas muitas vezes a grandeza da posição terrena anda a par com a grandeza da alma e assim o progresso espiritual
e desenvolvimento continuam sem intermissão para todo o
sempre.
Continua no próximo Bloco - Organização
Nenhum comentário:
Postar um comentário